Rádio CN Agitos - A rádio sem fronteiras!!!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O ONTEM E O HOJE (PRÓLOGO E EPÍLOGO DE UMA REBELDIA)



O ano era 1989. O último do governo Sarney. Outra era, outro século, outros tempos, o Brasil era outro, olhando sob o prisma atual, parecia até outro país. Aliás, o mundo era outro também, havia ainda a polaridade entre a Rússia Soviética e os Estados Unidos da América (muito embora estivesse nos seus estertores, pois o presidente americano George Bush já anunciava e cantava a vitória na Guerra fria).
Nas ruas Monzas, Escorts e Chevettes ganhavam a companhia do BR-800, da Gurgel, o primeiro carro 100% brasileiro que era uma promessa de uma carro popular absolutamente nacional. Na televisão os programas abusavam do nu frontal, saudando o fim da censura; nas rádios imperava o “fricote” de Luis Caldas; e ainda se viajava pela Vasp e Transbrasil; havia Embrafilme, estatais; inflação com três dígitos e uma recessão severa. Chegou até a ter saques e depredação nas ruas e nas frentes de emergência, o povo sofrido se revoltava e ainda era “suavemente” reprimido.
Como disse, o Brasil era outro, e já se vão mais de 20 anos, mas eu me lembro bem daquele ano de inverno bom e de boas chuvas, pelo menos na minha Paraíba natal. Eu ainda estava extasiado ouvindo o ótimo LP (CD era coisa rara naquele tempo) de estreia de Marisa Monte, enquanto se respirava esperança: o país ia votar para presidente!
Me lembro de um programa do Fausto Silva, que também estreara naquele ano, um certo cantor de rock brasileiro, Lobão, falar no intervalo de uma música e outra em sua apresentação: “vamo’ votar na esquerda, em Roberto Freire, em Lula, temo’ que mudar isso tudo aí...” (sic). Me lembro de um constrangido Faustão correr e chamar os comerciais imediatamente, afinal, e emissora Globo apoiava um candidato, o Collor; além disto era proibida a propaganda fora do horário específico, pelo menos naquele momento.
Lula não ganhou aquele ano e as consequências desta história todos sabem. Coincidência ou não de 1989 pra cá, a carreira de Lobão desceu ladeira abaixo, lançou mais alguns discos, sem muito sucesso, abriu uma gravadora que durou pouco tempo, enveredou pelo samba (nem ele gostou da experiência), acabou apresentando programa na falecida MTV.
Melhor do que ninguém, Lobão sentiu na pele o peso de contrariar os interesses da grande mídia e o que ela representa, dentro do seu quintal. Hoje Lobão vocifera contra o governo, incorpora a opinião e a posição do que a elite brasileira pensa, e como prêmio ganha uma coluna na Veja (que prêmio! Principalmente para um artista desempregado...).
Lobão, e outros de sua geração incorpora bem o que se convencionou chamar de neo-reaças, gente que antes juravam ser progressista, “pra-frente”, avançada e hoje pensa exatamente como os pais (parafraseando aquela música de Belchior). Das duas uma, ou a geração do rock brasileiro envelheceu e suas mentes envelheceram, ou o “modernismo” dela era só moda, e hoje, a moda é ser reacionário, e querer de volta uma velha ordem a que eles mesmo se rebelaram antes.
Mas o que mais incomoda não é exatamente isso, é a falta de proposta. Se você diz que o que está ai estar errado, espera-se, no mínimo que você tenha uma ideia melhor para implementar e que esteja bem guardada dentro da manga; não é isto? Mas pior é que nem isso se tem. Semana passada vi na TV um repórter perguntar a Lobão, se o PT não presta, qual é a sua posição pra uma renovação? Resposta de Lobão: “...minha proposta é vão tomar no c....” isso é o que pensam os “neo-reaça”, e proposta para um futuro que é bom....nada...

domingo, 25 de agosto de 2013

Macunaímico



A crise de 2009 abalou profundamente os princípios da chamada economia de mercado, muita gente boa nos círculos intelectuais e jornalísticos ao redor do mundo chegou mesmo a estatuir um colapso definitivo do capitalismo em proporções semelhantes ao colapso no mundo socialista que ocorreu no final dos anos 1990’s.
Se houve um colapso no capitalismo, ainda não se sabe, mas duas coisas ficaram definitivamente claras: um: o estado não pode se deixar render às mãos livres e invisíveis do mercado, pois quem as comanda esse mercado são pessoas sem  nenhum método, ou pior e mais certo, não tem nenhum caráter. Os grandes operadores do capitalismo são indivíduos que não dispensaria a chance de destruir o próximo e a si próprio. Dois: os velhos paradigmas produtivos, ou melhor, dizendo, as culturas afeitas ao árduo trabalho, perceberam que isto não as faziam melhores ou mais especiais que as demais.
Em outras palavras, o paradigma do ‘quem trabalha mais é mais próspero’ foi seriamente abalado. As duas sociedades ditas MAIS produtivas do mundo: Japão e Estados Unidos da América estão em severa recessão, indo lenta e inexoravelmente pro buraco, condenados a num futuro próximo-distante se transformarem em uma espécie de “Reino Unido da Grã-Bretanha”, ou seja,  país que já foi rico e potência hegemônica virar uma ‘potenciazinha’ de segunda (ou terceira) grandeza, pra não dizer de quinta categoria.
Mais notadamente nos casos japonês e americano, duas sociedades voltadas ao culto ao trabalho, sentiram particularmente forte o impacto da crise. Empresas americanas gigantescas americanas viraram pó e tiveram de recorrer apoio estatal (uma lástima no estilo de vida preponderantemente liberal que impera nos EUA).  Empresas japonesas que mais pareciam feudos, em que os empregados nasciam e morriam nela, fecharam fábricas e se sujeitaram a administração de CEO’s estrangeiros (um verdadeiro pecado na cultura milenarmente hermética japonesa).
Esses dois casos mostram patentemente que a ‘ loucura “workholica” ’,  pode não levar a nada, absolutamente nada,  e nem é garantia vitalícia ao êxito, nem muito menos vacina pra bancarrota.
Por outro  lado emerge o BRICS, conjunto de países que se candidatam a superpotências no futuro próximo-distante, dos quais o único verdadeira mente agraciado com reais chances de êxito, bem como com uma nova filosofia de vida capaz de melhorar o mundo é o nosso BRASIL (quiçá um “Brazilian way of life”, uma coisa tipo, não se estressar muito, levar tudo na calma e no balanço da rede, ou algo como “pra que ser pontual se já estou aqui”...)
 Senão vejamos: vamos analisar, brevemente, cada letra que forma o BRICS, o “R” da Rússia, não vale, herdou todo o parque tecnológico e industrial da União Soviética, isso sem falar nas reservas de petróleo que tem; o “I” da Índia, uma nação gigantesca, com uma população enorme e fechada que pode muito bem prescindir de tudo que vem de fora; o “C” da China, maior população do mundo, faz da necessidade de emprego de sua gente, um propulsor para remunerações baixas o que levou quase toda a indústria do Velho Mundo se transferir para lá; o “S” da África do Sul (South Africa), não tem indústria, nem agricultura, nem nada, mas foi agraciado com descomunais reservas de ouro e diamantes e um bom contingente de mão-de-obra barata.
Então, qual o único que surgiu praticamente do nada, começou aqui tudo do zero, além de oferecer ao mundo um novo estilo de vida, não baseado na loucura pela busca do sucesso como nos States ou nas ilhas japonesas, mas sim no “curtir a vida” no mesmo patamar do “lutar/batalhar pela vida”? Sim! O “B” do nosso Brasil !!!!
E tudo isso sem ser  “‘workholic’“ e sim “Macunaímico”.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Protestos? Que protestos?



Pois bem, a poeira assentou, a turbulência passou, a chuva foi embora e o céu voltou a clarear. Isto, antes de tudo, significa que se pode ser mais claro, ter certezas e distinguir os vultos turvos que se exibiam no horizonte.
Durante a realização da Copa das Confederações o Brasil foi palco das mais brutais, violentas manifestações que já foram vistas na nossa história recente. Patrimônio público destruído, pessoas feridas, e uma noda na imagem do Brasil no exterior (ressaltando que esta imagem nunca foi das melhores antes).
Tudo isso para que? Por quê? E a pergunta que não quer calar: aquilo tudo mudou alguma coisa? Eis a resposta: NADA!
O que se viu foi uma juventude alienada manobrada, despolitizada e pronta para dar uma bodoarda no primeiro conceito civilizatório que aparecesse na frente. Fantasiados com a máscara criada por Alan Moore, não percebiam que eram meros títeres nas mãos de uma elite presunçosa que queria (e ainda quer) desestabilizar uma ordem democraticamente instituída.
É fácil para uma minoria usar de princípios nobres como honestidade e melhoria nos serviços públicos para manobrar uma maioria pouco esclarecida. Isso já foi feito antes, em 1964, uma das motivações do golpe de Estado, foi a falta de prestigio e a reconhecida inaptidão da classe política. Em 1932 a elite paulista levantou a bandeira do constitucionalismo para derrubar Getúlio Vargas e as reformas em prol do povo que findaram a má república café com leite então vigente. 
Nesses “protestos” duas caras se destacaram e lhes deram uma feição (elitista, raivosa, antidemocrática e nada popular, diga-se de passagem): Pierre Ramon, um playboyzinho bombado, estudante de arquitetura que peitou a polícia na tentativa de invasão do prédio da Prefeitura de São Paulo. Ele foi pra cima da segurança como quem vai para uma balada regada a bebidas e anfetaminas, consciência política zero, e ainda queimou a bandeira da cidade e do estado de São Paulo, para depois gritar “queima a do Brasil!”. Carla Dauden, patricinha, estudante de cinema (quantas pessoas você conhece que estuda CINEMA) nos Estados Unidos, ela “bombou” nas redes sociais da internet com vídeo, onde, num inglês perfeito, dizia os motivos para ela não vir à Copa. Claramente  não se ver verdade alguma no que ela dizia, um textozinho decorado, repleto de clichês, pedindo melhorias na saúde pública. Só esclarecendo, nos EUA a saúde não é pública.
Carla e Pierre, jovens, bonitos, bem nutridos, bem instruídos, brancos, ricos. Se se conhecessem formariam um belo casal. Mas com certeza não é a cara do homem e da mulher comum brasileira, não passaram necessidades, não ralam no dia-a-dia para pagar suas contas. Com certeza não nos representa.
Enquanto cartazes de cartolina escritos com caneta Pilot berravam “Moralidade na Administração Pública”, Henrique Alves boçava, viajando num avião da Força Aérea como se fosse um taxi aéreo  (pago pelo contribuinte, eu e você). Enquanto se ouvia o som de gritos de revolta contra os políticos, Joaquim Barbosa assistia aos jogos da seleção no camarote da TV Globo ao lado de Luciano Huck (só lembrando, a família Huck é dona de uma das maiores bancas de advocacia do Sul/Sudeste, não precisa ser inteligente para perceber o resultado dessa troca de favores: lugar privilegiado/julgamentos favoráveis).
Conclusão: o que mudou? Nada! O que vai mudar? Nada! Somente os milhões que serão gastos nas reconstruções do que foi destruído e uma lágrima chorada por uma bandeira brasileira injustamente queimada.

sábado, 15 de junho de 2013

a velha mídia que satisfaz



O escritor paraibano Bráulio Tavares publicou em seu blog um excelente texto tratando das novas tecnologias, especialmente das novas mídias, enfocando principalmente em torno do impacto destas nas chamadas antigas mídias e em especial no livro. Sim, esse velho e bom livro a quem eu, particularmente chamaria de mídia antiquíssima.
Dizia o texto, num resumo sintético meu, que antes de nos adaptarmos as novas mídias, devemos esperar que as novas mídias se adaptem a nós. De que adiante termos um Tablet, ou qualquer bugiganga que o valha, com todos os volumes da Enciclopédia Britânica, todos os 1000 e tantos romances de Ryoki Inoue, todas as obras de Jorge Amado e Jorge Luis Borges, e se eu estou preso a carga de uma bateria? De que adianta ter todas as obras de Da Vinci para visualizar se um mínimo arranhão no touch-screen  pode inutilizar todo o aparelho? E finalmente a indagação definitiva no texto do citado escriba da Paraíba: de que adianta  ter um livro de plástico que não pode ir ao banheiro com a gente? E mais, ele acrescenta ainda mais uma hipótese: “vai que o meu I-Pod, ou Galaxy, ou Kindle, ou Tablet cai no vaso sanitário, agora pronto, todos os meus volumes da Enciclopédia Britânica vai, literalmente, por água abaixo”, já isso não aconteceria com o velho e bom livro em papel.
Tanto concordo com Bráulio Tavares, como acrescento: nada supera a velha e boa tecnologia já milenar do livro impresso, ou melhor, de qualquer mídia impressa. Eu posso passar um ano interior no meio da floresta tropical de Java, sem qualquer sinal remoto do que pode parecer uma tomado e carregar comigo todos os livros de León Tolstoi, posso mergulhar numa piscina com livro de Maria Clara Machado ou de Clarice Lispector que depois posso botar pra secar e ler novamente (isso se eu não quiser ler molhado mesmo)
Mas o povo gosta é de bugiganga mesmo, e não me refiro só ao povo brasileiro, me refiro literalmente ao mundo todo, toda a canalhice humana que habita esse pobre Planeta Terra...
Parece que a cada invenção se sente a morte eminente e total das coisas boas anteriores. Quando veio a televisão, disseram que o rádio ia morrer, quando veio a Internet, decretaram a morte da televisão, quando veio o CD “mataram” o LP, e quando vieram os arquivos digitais o CD já estava morto...tudo conversa mole...todos estão vivos e convivendo, com algum  grau maior ou menor de harmonia ou desarmonia, mas convivendo.
O que pode haver e, infelizmente haverá, será uma “despopularização”, o que antes vendia muito, não vai mais vender tanto. Então sugiro aos que me leem: Escreva um livro enquanto ele ainda existe, ou melhor enquanto ainda sabem como um livro funciona, pois do jeito que está talvez as próximas gerações não saibam que para ler um livro é necessário passar as páginas (talvez nem saibam o que sejam páginas). Pior para as próximas gerações...muito pior...

Aos que dizem que no futuro sá vai existir Tablet, e-books, Kindle e outras besteiras do gênero, eu respondo: nesses dias cibernéticos de fibra ótica e milhões de terabytes em qualquer bodega de esquina você vai achar velas para vender, e ela, a vela é a uma das poucas coisas que salvam num blackout duma noite escura...