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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Repetir



O problema de ter uma coluna num periódico como este é que de tempos em tempos a gente acaba se repetindo.
Com certeza, ao longo de todos esses anos que escrevo aqui, com certeza, já me repeti, ou seja, escrevi textos idênticos só que com outras palavras. Isso não é proposital não, é involuntário, é sem querer mesmo. Pois uma das minhas fontes primeiras de “inspiração” é escrever sobre o que me incomoda.
Eu gosto de escrever sobre o que me incomoda, não por masoquismo, pois eu acredito no poder transformador da palavra e  se eu uso a palavra escrita para modificar algo que me causa incômodo eu posso modificar o mundo. Certo? Errado! Do que adianta usar a palavra escrita se pouquíssimos o lê, não só por não saber ler, mas não querer ou desejar ler (analfabeto funcional).
Uma coisa que particularmente me incomoda é a maneira como o povo da região do Seridó potiguar trata o verde.
Veja bem, estou me referindo ao povo Seridó, não especificamente o curraisnovense ou caicoense.
O verde, digo, a vegetação em geral, subconscientemente é visto quase como inimigo. E se está linda e viçosa, não faltam elogios e “glórias a Deus”, mas que nada, é tudo jogo de cena, pois lá no fundo do coração o que se quer é tudo o chão.
Basta ver como são feitas as “podas” das árvores por aqui, se deixa praticamente no toco, quando não se podem ver árvores com décadas de existência, sendo derrubado pelos motivos mais fúteis, tipo ‘cai folha na minha calçada’ ou ‘está desgraçando o calçamento’ ou ‘’tá fazendo sombra pro carro do vizinho’ ou ‘pra não dar abrigo pra ladrão’ e outras mil bobagens mais.
Pra mim, esse sadismo seridoense contra o verde beira as raias do revoltante, pois quando não deixam no toco, ou derrubam de vez, também há caso que ainda colocam óleo quente no caule que é “pra matar mesmo”.
Veja bem, a equação é simples, e eu, pra simplificar, vou deixá-la mais simples ainda (e me desculpem a redundância): sem árvores, sem oxigênio e sem oxigênio, sem chuva e sem água. E se a falta de chuva e a consequente crise hídrica é grave no resto do Brasil, inclusive no Estado de  São Paulo, e no “Sul maravilha”, no Seridó é evidentemente pior, principalmente pela sua geografia. Com certeza, estas pessoas que acabam com suas árvores pelos mesmos motivos fúteis que relacionei acima são as mesmas que com certeza reclamam dos açudes secos.
Vários estudos sérios apontam que a região do Seridó potiguar é a que mais rapidamente caminha para virar um deserto dentro das próximas décadas, e, mais notadamente, a área correspondente ao Município de Currais Novos é onde este processo de desertificação está mais adiantado.
Então nesta luta inglória contra o verde, contra uma pobre árvore que “levantou” um calçamento, contra um galho cujas folhas secas sujam incomodamente as calçadas, essa luta do seridoense para por abaixo tudo que “pé-de-pau”, só tem um perdedor: nós mesmos.
Pobres almas abestalhadas, suicidando-se lentamente.
A continuar desse jeito, além do fim do verde, não vai ter Santana nenhuma que faça chover por estes sertões.
Pois é, eu sei, já escrevi antes contra o abate indiscriminado de árvores, já fiz protestos, já falei, mas parece que o poder da palavra é mitigado, principalmente num chão de tanto e muitos iletrados, cuja palavra não representa absolutamente nada.
Mas quem sabe desta vez, e isto eu espero, com esse texto singelo, despido de pudores literários ou mesmos estéticos atinja algum coração minimamente sensível a questão ecológica estas palavras reverberem
Indignar-me é o que resta, e expressar esta indignação é o que farei, pelo menos enquanto ainda houver democracia neste nosso país.
E quem não gostar não leia, vire a página, vá pra frente, fique ignorante, derrube uma árvore, fique sem água, passe sede.

voltei!

voltei!