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quarta-feira, 2 de julho de 2014

TRADIÇÃO BESTA



Japão. Um dos países mais fortes e ricos do mundo, altos índices de desenvolvimento humano, educação, saúde e segurança. Um paraíso civilizado e organizado se não fosse as mais altas taxas de suicídio do mundo. Sim, nem tudo é perfeito. No Japão, o suicídio é institucionalizado e sacramentado, ao contrário de nós, aqui no ocidente, que despreza e vê num suicídio uma reprovável  fraqueza, lá eles veem como uma saída “honrosa”. Eu particularmente entendo o suicídio como distúrbio psíquico, uma patologia a ser tratada, mas o japonês comum ver como uma maneira de resolver problemas, ao invés de lutar, melhorar e progredir, eles preferem tirar a própria vida, seja por uma nota baixa na escola, seja um problema no trabalho. A coisa ficou tão grave que na recessão japonesa de meados da década de 1990, o então primeiro-ministro japonês, o socialista Shinzo Abe, teve a coragem de afirmar que o suicídio estava se tornando um problema crônico de saúde pública no país, tal foi o número de pessoas que ceifaram a própria vida. Mas o suicídio é uma tradição, uma tradição besta!
Santa Catarina. Um dos estados mais ricos e industrializados do Brasil. Ao contrário do restante do país, este estado sulista tem forte colonização açoriana, e dos Açores veio a prática da chamada “Farra do Boi”, que consiste em, numa determinada época do ano, soltar um pobre animal, um boi, pra ser impiedosamente surrado em praça pública até a morte, tal qual um linchamento. Quem já teve a oportunidade de  ver este horrendo e dantesco acontecimento, seja pela televisão ou pela internet, fica traumatizado. É uma brutalidade irracional, o pobre bicho foge desesperado enquanto a turba armada de paus e cacetes o agride de maneira cruel entre gritinhos de entusiasmo dos participantes. O Ministério Público catarinense e outras entidades de bom senso, vem buscando nos últimos anos coibir esta prática. Mas esta ainda está enraizada, dizem que é “cultural”, é uma tradição, outra tradição besta!
O que quero passar é que não é necessário ser ou viver em uma região rica, ou letrada para se partilhar de tradições absolutamente bestas e sem sentido. A região do Seridó potiguar, por exemplo, não é rica nem letrada, mas aqui tem uma tradição indubitavelmente BESTA: a queima de fogueiras nas festas juninas.
Que o seridoense não gosta de verde, isto já é patente. Baste ver as “podas” exageradas das árvores nas ruas, o corte indiscriminado de centenárias árvores frutíferas na zona rural, e sempre ver o “mato” como um problema, uma praga a ser sanada. Resultado: elevadíssimos índices de desertificação, a consequente falta de chuvas gerando escassez dos recursos hídricos. Está tudo interligado, só não vê quem não quer. E assim o seridoense-potiguar vai se tornando tão “suicida” quanto o japonês, ambos se matam em nome de uma “tradição”.
Outro dia, numa certa cidade do Seridó do RN, um certo edil estava incomodado com a criminalidade e o consumo de entopercentes debaixo da copa das árvores na praça pública diante de sua casa. O edil paspalho, ao invés de pleitear por mais policiamento e vigilância na praça, ou por mais iluminação pública para afugentar os meliantes, preferiu a solução “mais seridoense”, mandou cortar as árvores. Resolveu o problema? Claro que não! O consumo continuou e criminalidade também, dessa vez a noite e debaixo das marquises; e de quebra tornou a praça mais feia e árida.
E para completar de vez, na época dos festejos juninos se tem essa tradição besta de queimar fogueira, e para isso se corta madeira virgem, das pouquíssimas que resta.
É tradição! Pode dizer alguns. Não dá pra mudar. Pode dizer outros. Mas preciso chegar alguém  e dizer em alto e bom som, é uma tradição besta e desnecessária, assim  como Shizo Abe disse da tradição japonesa do suicídio, só espero que quem o diga não sofra tanto quanto o bovino da “Farra do Boi” catarinense.