Rádio CN Agitos - A rádio sem fronteiras!!!

domingo, 26 de setembro de 2010

A Ciganada e a Micareta

O Brasil tem a maior população de ciganos da América latina. O Estado do RN tem a maior população de ciganos no Brasil. Povo nômade perseguido ao longo da história, incompreendido e geralmente não aceito por onde passa, massacrado desde a inquisição medieval até as purgações eugenísticas da Alemanha nazista.
Pouco se sabe sobe sua origem, se do norte da Índia, pois se percebe palavras e léxicas semelhantes entre o romani (a língua cigana) e o antigo sânscrito, ou do Egito Antigo, isto devido a transliteração do termo “Egipcianos”, transformado ao longo do tempo dando origem ao termo “Ciganos”.
No período colonial foram deportados aos milhares da intolerante Península Ibérica para o selvagem Novo Mundo, e aqui sentando raízes (raízes frágeis, porquanto nômades), misturando-se aos nativos, traficando escravos negros, enganando portugueses patéticos, influenciando a vida, e de certo modo construindo os novos costumes numa nova terra. Há quem diga que quem introduziu o acordeom (típico instrumento musical de origem indo-europeia) no forró, foram os ciganos. Há quem diga, também, que o gingado malevolente típico do samba, também é influência dos ciganos.
É inegável que por estar tão intimamente ligado, desde os tempos do Brasil colonial, o espírito cigano tenha contagiado a formação da brasilidade, não que isso nos faça um povo nômade, e pouco adaptável, mas sim, pela inquietude, pela coragem de ir de um canto para outro para garantir a sua sobrevivência, abrindo mão até mesmo dos confortos da sedentariedade.
Quem teve a oportunidade de passar pela Rua Lula Gomes durante o Carnaxelita, certamente viram várias redes puídas e encardidas estendidas ao longo das árvores do canteiro central ao lado de velhas e enferrujadas D-20’s e Mercedinhas, de carroceria de madeira, repletas de carrinhos de mão e caixas de isopor cheias de bebidas. Era gente que havia trabalhado, vendendo cerveja e refrigerantes, durante a noite inteira na festa do dia anterior, e que agora descansava ao céu aberto, debaixo do sol quente, para depois voltar a fazer tudo de novo enquanto durasse a micareta curraisnovense.
A imagem das redes velhas e das pessoas sujas e cansadas nelas deitadas, irremediavelmente me remeteu a lembrança dos pobres e miseráveis acampamentos ciganos que já vi na vida, principalmente em se sabendo que tão logo terminasse a festa do Carnaxelita, eles levantarão “suas tentas” e irão acompanhar os trios no percorrer do circuito dos carnavais fora de época em todo o Brasil.
Atentem bem, não estou dizendo que aquelas pessoas são ciganas não, são pessoas como nós, como eu e você, que na luta pelo pão de cada dia se sujeita às intempéries da estrada, pulando de cidade em cidade, em busca da sobrevivência. Seria o espírito cigano, contaminando a brasilidade, imposta pela necessidade de se vislumbrar pelo trabalho árduo e desapegado a terra, na procura de um amanhã melhor.
Por outro lado, para os que não encaram a estrada, ou seja, para os ficam só restam às perguntas que não querem calar. Será realmente que cidade lucra alguma coisa em estar no calendário dos carnavais fora de época? Há algum lucro, em algum setor que não seja o hoteleiro, em ter um carnaval fora de época? Será que as únicas coisas que sobram de uma micareta são ruas com o lixo batendo na canela e fedendo a urina, além de abuso de droga, álcool, e trabalho extra para Polícia?
Cidades grandes e médias, como Recife, João Pessoa e Campina Grande aboliram suas micaretas, porque perceberam que na medição do custo benefício perceberam não ser tão vantajoso assim. Será que ainda vale a pena ter uma micareta hoje em dia?