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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Ano Novo, desgraça velha

Chegou Janeiro. É pleno verão, o calor intenso dos nossos trópicos incide sobre a terra, em princípio é tudo alegria, para alguns a melhor época do ano. Mas o calor também evapora água, muita água, estas se elevam, se condensam e depois com a umidade se precipitam nas monções, e mais uma vez se tem a crônica de uma tragédia anunciada.
Ano após ano os noticiários explodem em más notícias, ano passado, Angra dos Reis (RJ) e São Luiz do Paraitinga (SP) foram arrasadas pelas cheias e deslizamentos. E nem adianta os catastrofistas de plantão atribuir tais eventos a uma eventual proximidade do fim do mundo, se voltar, mais e mais no tempo veremos que região após região, este flagelo de início de ano vem irremediavelmente se repetindo. Em São Paulo (a capital) isto nem é mais novidade, é quase rotina.
Ano retrasado foi a vez de Santa Catarina ser atingida pelas monções. Sem falar nas enchentes em Pernambuco e Alagoas, no mesmo período.
Em 2006, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (eleito novamente ano passado) anunciou o final das enchentes no Rio Tietê. Semana passada, o Tietê - e seus afluentes Pinheiros, Aricanduva, Tamanduateí e Pirajussara - transbordaram.
Desde que me entendo por gente e que acompanho os noticiários, percebo que o início do ano é tempo de falar de enchente em algum lugar desse país. Ficou tão indecentemente comum este tipo de notícia, que a gente chega a ficar indiferente com a desgraça alheia que é noticiada, e por vezes os apresentadores dos telejornais mal mudam o tom de voz quando sai do noticiário das enchentes e passa para a seção de esportes e fala da contratação de Ronaldinho Gaucho pelo Flamengo.
Mas devemos lutar contra o demônio da indiferença com mais vontade do que contra qualquer outro demônio, e um cataclismo deste não pode passar em branco.
Este ano as torrentes atingiram o interior do Estado do Rio de Janeiro, castigando a sua bela região serrana. Uma das maiores catástrofes da história recente, mais de 500 mortos, inúmeros desaparecidos e enormes prejuízos materiais.
Mas afinal, de quem é a culpa? Do governo? Do povo que constrói em áreas de risco? Falta de planejamento? Não é só de um, mas de todos, guardadas as devidas proporções. Dos governos sim, pois permitem seguidamente a construção em áreas declaradamente de risco, seja por motivos politiqueiros, pra ganhar votos de uns, seja por inoperância e incompetência para fiscalizar. O povo também tem culpa uma vez que constrói mesmo sabendo dos riscos. Os mais pobres teriam a sua culpa meio abrandada, pois às vezes constrói em áreas de risco por pura falta de opção melhor. A falta de planejamento também tem sua parcela de culpa. Hoje a meteorologia consegue prognosticar a possibilidade de fortes moções com até 4 dias de antecedência e 90% de acerto, e se tava previsto que haveria chuva forte naquela região o que custava evacuar as pessoas, ficaria o dano material, mas pelo menos se salvaria as vidas.
Além do mais todo mundo sabe, e até eu que não sei de nada, sei que janeiro-fevereiro é o tempo das moções de verão, o que custa prevenir?
A gente tem que aprender com a desgraça, não se comover com ela.