Rádio CN Agitos - A rádio sem fronteiras!!!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Então... Natal (o amor, o perdão e a tolerância)

Sempre gostei muito de Rock’n’Roll, e já hoje, estando na casa dos 30 indo pros 40 anos, sempre procuro ficar por dentro das bandas atuais e que estilos e vertentes desta música estão sendo ouvidas mundo a fora. Mas quando eu era adolescente não me contentava só em ouvir Rock, mas sim adotá-lo quase como “estilo” de vida. Mas mesmo na adolescência, a atitude a postura de certas bandas e grupos me causava sempre estranheza e até um pouco de repulsa.

A banda mineira Sepultura sempre teve uma colocação violentamente anticristã, seja nas capas dos seus discos, seja nas letras de suas músicas. Apologias satânicas, e expressões agressivas a imagem de Jesus são uma constante em suas obras. Mas eles não são os únicos, nem os “head-bangers” são os únicos anticristãos que existem e abundam na mídia mundial. Além da música de Metallica, Slayer, Ozzy Osbourne, tem os livros de Gore Vidal, os filmes de David Frondizi, dentre várias outras manifestações artísticas que têm por mote atacar a imagem, memória e legado de Jesus Cristo, isto só dentre os que no momento estou conseguindo lembrar, sem falar nos que não estou me lembrando.

Mas daí vem a questão. Porque a ideologia cristã, que prega o amor, o perdão e a tolerância, suscita tanta rejeição e até ira no seio de alguns? Tirando o aspecto teológico, e o daqueles que declaradamente optam por louvar outras deidades; se tira a questão do porquê de alguns rejeitarem veementemente uma doutrina religiosa que se lastreia no amor, o perdão e a tolerância, se o que todo mundo deseja e quer pra suas vidas é justamente o amor, o perdão e a tolerância?

O que faz com que multidões ao redor do globo se desencantem com o bem e se encaminhem para o outro lado?

Seria a hipocrisia do Vaticano ou o mau-caratismo de certos grupos evangélicos e pentecostais? Seria a pedofilia sodomita de certos padres? Seria a roubalheira descarada de certos pastores?

Seria o cinismo de pregar uma coisa e fazer outra totalmente diferente? Pois se este for o motivo, então eu não os critico, pelo contrário, eu os apoio.

Mas lembremos que a doutrina cristã e os ensinamentos de Jesus de Nazaré são maiores do que a atitude de alguns dos seus sacerdotes. Jesus em momento algum pregou a hipocrisia, suas palavras sempre foram de amor, o perdão e tolerância.

O que se percebe é que o ensinamento de Jesus foi prescindido pelos milagres, ao longo dos séculos. O que Jesus ensinou (o amor, o perdão e a tolerância) é o que nos faz seres humanos melhores. Darwin nos diz que só os mais aptos e fortes é que sobrevivem na escala evolutiva. Jesus diz os fracos é que terão o reino dos céus. E no mundo tem muito mais fracos bancando o forte, do que fortes que têm ciência da própria fraqueza.

A hipocrisia turba a visão da essência cristã. É muito mais fácil se extasiar diante do milagre da transformação da água em vinho do que dar ouvido a simples frase “se alguém bater na tua face oferece a outra”. A pregação de Jesus é muito mais importante para nós do que o relato dos milagres. A pregação é o que pode fazer com que nós, humanidade, baixemos as armas e abandonemos a guerra, ela é que faz com que sejamos seres melhores na escala evolutiva darwiniana, não o fato de sermos mais fortes e mais aptos, e não o relato de “simples” milagres.

O Natal para muitos é uma celebração triste, pois se comemora o nascimento de um homem que sabe que vai morrer, e morrer de uma forma trágica, porém com a mais nobre das intenções, a salvação da humanidade.

Então é Natal, celebremos o amor, o perdão e a tolerância, não só no dia 25 de Dezembro, mas em cada dia do ano novo que vem ai!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Um Poder Refem

A realidade atual da informática e o uso constante dos computadores no dia-a-dia nos põem diante de dilemas que seriam inimagináveis há vinte ou trinta anos atrás.
Hoje os computadores, que antes eram peças restritas no âmbito científico e nas universidades, estão presentes nos lares como eletrodomésticos, no comércio, na indústria e, sobretudo nas repartições públicas.
Dentre os poderes constituídos do estado, o que mais se beneficiou com a informática foi o Poder Judiciário, tanto em nível de agilidade como de prestação jurisdicional ao povo. Agora se pode processar uma ação judicial sem que seja necessário imprimir uma única folha sequer, poupando árvores para a feitura de papel. As facilidades do processo eletrônico facilitam o acesso à justiça aproximando o cidadão comum da Justiça.
Mas para funcionar um computador não se precisa só de energia, precisa-se de algo chamado SOFTWARE, um programa de computador, que é justamente o meio com que se interage com os comandos do computador e como o computador responde adequadamente. O software é o que faz o computador “pensar”.
Existe hoje em dia uma indústria relativamente nova, a indústria do software, que não é uma indústria “clássica” com linha de montagem e tudo o mais, é sim uma indústria especializada, geralmente com pouquíssimos funcionários, voltada para desenvolver os programas que se usa para dar comando aos computadores.
A indústria do software não é uma indústria convencional, como o software não é um produto convencional. Não se pode tratar o software como um automóvel, uma cadeira, como uma resma de papel, uma lâmpada ou qualquer outro bem, dado o seu caráter subjetivo e não tangível. Não se pode tocar um software, porém pode-se vê-lo, e nele depositamos todo aquilo que nos é caro e que colocamos nas memórias dos computadores, desde as fotos das pessoas que se ama até o texto que ora se escreve.
A humanidade criou uma dependência epidêmica aos computadores e se acostumou nas facilidades que estas máquinas trazem, mas pouca gente parece está preocupada no COMO estas máquinas agem, e no que ou de que jeito os softwares fazem-nas “pensar”.
Uma determinada empresa privada catarinense desenvolveu um programa de computador para ser usado pela justiça. Não sei por que critérios, ou se houve ou não licitação, ou de que jeito foi, mas este software é usado pelos Tribunais de Justiça de sete estados, incluindo o Estado do RN.
E agora vem a pergunta que não quer calar, em se supondo uma ação judicial em que um cidadão qualquer litigasse contra esta empresa catarinense, que garantias de isenção se teria ante o fato de que TODAS as máquinas da justiça do Estado pensam do jeito que a empresa, agora uma das partes, determinou? Lembrando que esta não é uma indagação simplória, pois nem os juízes, nem os desembargadores têm acesso a certos dados do software e que o servidor (=computador central) e backups (=cópia de segurança) da nossa justiça não estão nem aqui, conosco no Estado, e sim na sede desta empresa lá em Santa Catarina?
Ressaltando, mais uma vez, que o software não é um produto qualquer. Tome-se, por exemplo, um produto ordinário qualquer, o papel higiênico. Nada impede que qualquer um de nós litigue na justiça contra o fornecedor de papel higiênico do Tribunal de Justiça. Em eventualidade de represália, ou insatisfação pela decisão judicial que não lhe seja favorável, o dono da fábrica do papel pode torná-lo mais áspero ou mais caro. Se o papel higiênico ficar mais áspero não se usa mais, se ficar mais caro, se faz uma nova licitação e se troca de fornecedor. Mas com o software isto não é possível, não se pode deixar de usar, pois absolutamente todos os dados de TODOS os processos estão dentro dele, da mais complexa decisão do Juiz ao mais corriqueiro trabalho do Servidor, e trocar de software como se troca de marca de papel higiênico, também não é possível, pois implicaria em perda de tempo, desgaste da memória dos computadores e necessidade de treinamento específico dos usuários, Servidores e Juízes.
Alguém poderia argumentar que os dados estariam inseguros tanto se estivessem guardados pelo próprio estado ou se estivessem com uma empresa particular devido a ação dos Hackers. Mas cabe dizer que os hackers agem em surdina, quebrando códigos e usando da ilegalidade.
E se a “chave do cofre” onde estão as informações está nas mãos de uma das partes e longe dos olhos dos Juízes e Desembargadores, que garantia se tem de “sob o manto de uma aparente legalidade” estas informações não seriam modificadas?
A pergunta permanece: que segurança se tem em se ter informações e dados públicos nas mãos de um ente privado?
O ideal é que software para os entes públicos sejam desenvolvidos pelo próprio ente público e que este também detenha todas as informações pertinentes e não vire refém de uma empresa privada.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Olimpiadas no Rio?

Surpresa! Uma boa surpresa! O Rio de Janeiro foi escolhido para ser a sede das Olimpíadas de 2016! Confesso que, não obstante minha brasilidade radical, estava cético quanto a escolha da capital fluminense, tanto que não fazia nem questão de torcer. Principalmente tendo rivais de peso como Madrid, Tóquio (que já sediou Olimpíada antes) e Chicago (com todo o “marketing” de Barack Obama).

Mas a vitória foi anunciada e a cidade maravilhosa vai ser mesmo a capital dos esportes de verão daqui a sete anos. A primeira cidade na América do Sul (... morra de inveja, Buenos Aires...), a segunda da América Latina, e a quarta no hemisfério sul a ter a graça de ter no seu seio atletas de todo o mundo numa celebração da paz e dos esportes. Esta é uma honraria para pouquíssimos, e uma chance única de mostrar ao Planeta Terra uma nova face do Brasil, como um país estável, desenvolvido, democrático associado a já nossas tradicionais características da tropicalidade, jeito espontâneo de viver.

Mas aí vem o grande desafio. Não devemos cantar vitória constantemente, nem deitar nos “louros” da vitória. Por ser a chance única de mostrar ao globo uma nova e decente face brasileira, não podemos decepcionar.

Por mais que se seja nacionalista intransigente e de gostar de ver o Brasil ter alcançado esta importante vitória, há certos fatos que não se pode negar. O Rio de Janeiro é uma cidade empobrecida, falida, com gravíssimos problemas sociais, e sem importância econômica ou política. As favelas são uma mancha na paisagem aérea da cidade e um problema ancestral de difícil solução, que nem um muro, a descriminação e a indiferença dos “do asfalto” podem solucionar. Alias, a gravidade dos problemas sociais da Cidade Maravilhosa, não pode mais ser ocultada com tanques do Exército nas ruas (como fizeram na Eco’92) nem com a remoção compulsória dos moradores de rua (quando dos Jogos Pan-americanos de 2007). Maquiar a cidade para o evento e depois jogar tudo como era antes não é justo nem correto para com seus habitantes, nem com os turistas que saem com uma visão ilusória.

Existem lugares no Rio de Janeiro, principalmente nos morros, onde o estado simplesmente não consegue entrar. Anos de negligência dos governos anteriores, fizeram com que o tráfico organizado de drogas tomasse conta de comunidades inteiras e, que por meio da intimidação ou de um assistencialismo barato, a atividade criminosa conta com o “apoio” da população destes locais.

Hoje, o Estado busca entrar e retomar estas comunidades, e não só pela força policial, mas com políticas sociais de inclusão efetivas, mas está sendo muito difícil. É quase impossível mudar em pouco tempo o que foi sedimentado em décadas e gerações. Os noticiários não cansam de mostrar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal paralisadas por “determinação” dos traficantes, ao lado de imagens de truculência policial (a ação dos BOPE’s da vida), pobreza generalizada, favelas feitas de papelão com esgoto em céu aberto e pessoas sujeitas às mais terríveis privações em quadros que não nos fazem ver distinção entre o que se tem no Rio e o que se pode ver nos mais pobres países africanos.

Como é que uma cidade dessas quer sediar uma Olimpíada?

Não adianta maquiar o Rio para o evento e deixar seu povo na situação em que se encontra. Não adianta utilizar os milhões que serão investidos em urbanização na área nobre, Tijuca ou Zona Sul, e esquecer os morros e as populações lá esquecidas e reféns (em todos os sentidos) da marginalidade.

Maquiar a cidade e ocultar os seus problemas sociais, sem resolvê-los, já foi feito antes, e quando o evento vai embora, quem sofre são os que ficam, pois as mazelas voltam com a força reprimida do período em que esteve oculta, justamente por não ter opção.

E este é o meu receio. Que tudo isto aconteça novamente em 2016.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Embate Político (I)

A política partidária brasileira tem características muito próprias que a diferem da política partidária de qualquer outro canto do Mundo.
Aqui, os partidos políticos não têm ideologias, nem representam correntes de pensamentos, muito menos carregam bandeiras de minorias, nem tampouco falam por grupos étnicos.
Os partidos políticos no Brasil, salvo honrosas e pontuais exceções, tanto na direita como na esquerda, assemelham-se mais a clubes, em que os filiados podem se filiar e se “desfiliar”, com a mesma facilidade com que se troca de carteirinha de clube de natação ou de futebol (... aliás, se ver mais fidelidade a certos times de futebol do que a ideologias de partido).
Os próprios partidos não se levam a sério, eles mesmos se assumiram mais na condição de agremiação efêmera do que agrupamento de posição política. Eles incorporaram este espírito carnavalescos pouco sério, e se tornaram mera “sopa de letrinhas” para defender este ou aquele interesse INDIVIDUAL e nunca o COLETIVO.
Existem as mais diversas tentativas de explicar este “fenômeno”, desde a daqueles que dizem que isto é fruto da vontade reprimida do povo diante os vinte anos de bipartidarismo forçado durante a ditadura (a dicotomia artificial ARENA e MBD) até os que advogam que isto está na natureza simplista do DNA político brasileiro, partindo da dualidade entre conservador e liberal que existiu desde os tempos do Império chegando aos grupos dos de quem está no governo e quem está contra, nos dias de hoje, ou melhor dizendo nos dos que estão com o “osso” e não querem largar dos que estão com vontade de pegar o osso.
Alguém já ouviu falar em PHS, PRTB, PRB, PT do B, PMN, PCO, PSC, PSDC, PPS, PRN, dentre muitos e muitos outros? Legendas absolutamente vazias, sem ideologia, sem estatuto definido ou com estatuto vagos, sem posição no espectro político e sem propostas, só servindo de mero “clube partidário”, cabide ou trampolim pra meia dúzia de espertalhões TENTAREM alçar espaço na vida pública e ficar com o osso na boca até não poder mais.
Lógico, claro e evidente, que as medidas em prol da fidelização partidária lançadas pelo próprio Poder Legislativo e lastreadas pela Justiça Eleitoral (Poder Judiciário) buscam parar com esta farra toda, já tendo até algumas vítimas “ilustres” como o fedelho otário Walter Brito Neto que entrou para a história por ser o primeiro deputado a perder o mandado por infidelidade partidária, pois se elegeu pelo DEM da Paraíba e quando chegou ao Congresso, tentou vazar pro PRB.
Isto tinha acontecer mais cedo ou mais tarde, esta moralização partidária tinha que acontecer sob pena do carnaval partidário se aprofundar ainda mais. Contudo, parafraseando o grande poeta paraibano Augusto dos Anjos, “... a mão vil que afaga e a mesma que mão apedreja...”, pois as mesmas regras que buscam a dar seriedade a fidelização partidária no país permitem certas burlas que deixam passar quase o mesmo carnaval de antes, basta achar um bom, competente (e caro) advogado, com trânsito regular no TSE ou nos TRE’s da vida, para que entre uma brecha e outra se permita que se troque de partido como se troque de camisa do mesmo jeito que antes.
Nisso tudo, só quem se confunde (ou se lasque) é o coitado do eleitor, que se acostumou e ver um fulano ou sicrano vestindo as cores de um partido e de uma hora para outra, por um motivo que poucos conseguem alçar, vestir a cor de outro partido totalmente diferente, e pior, fazer isto como se fosse a coisa mais legítima do mundo, quem antes estava lado a lado num palanque, de um momento para o outro passa a se engalfinhar nas ruas, e quem a gente jurava ser inimigo mortal um do outro, num passe de mágica, se tornam aliados e trocam-se afagos em via pública.
O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) já dizia que “... a política é a arte do possível...”, e no nosso Brasil esta frase assume contornos ainda mais inimagináveis, e inexoravelmente, expandindo as fronteiras do possível.
Não vou julgar se isto ou aquilo é positivo ou negativo, mas que todo carnaval tem limite, principalmente este carnaval político que vivemos, a isso tem que ter, pois só depois da “quarta-feira de cinzas” é que se vem a quaresma, e necessitamos de uma “quaresma política”.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ironic critics for the British pseudo hard life, due to the cruel Brazilian reality

We don't need no education
then we should be all illiterate

We don't need no thought control
then we didn't at least need to think

No dark sarcasm in the classroom
so here comes the fake luminous freedom from being absolutely nothing

Teachers leave them kids alone
alone, without hopes and without future perspectives

Hey! Teachers! Leave them kids alone!
alone, drunk, alcoholic adict, ignorant and without any professional qualification

All in all it's just another brick in the wall.
better be just brick thrown thereabout

All in all you're just another brick in the wall.
better be just brick that breaks window-panes and windshields

just brick thrown thereabout
just brick thrown thereabout
just brick thrown thereabout




then we should be all illiterate
then we didn't at least need to think


so here comes the fake luminous freedom from being absolutely nothing
alone, without hopes and without future perspectives


alone, drunk, alcoholic adict, ignorant and without any professional qualification
better be just a brick thrown thereabout
better be just brick that breaks window-panes and windshields

just brick thrown thereabout
just brick thrown thereabout
just brick thrown thereabout

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Santana dos Usurpadores (2ª Parte)

Roma, Século II antes de Cristo, a colheita da uva sempre foi uma das mais esperadas, e desejadas, pois com a uva se produzia o vinho e com ele toda a alegria, que pode vir, da sensação de embriaguez. Com o vinho afogavam-se as mágoas e curtiam-se as coisas boas da vida. E como em toda colheita, isto nada mais era do que a celebração da vida, pois da terra árida, pedregosa e mediterrânea da Península Itálica, vinha algo tão doce e bom como a uva, e da uva se originava a bebida mais maravilhosa que até então existia, o vinho. E para celebrar esse evento tão único nada melhor do uma festa, e os romanos organizavam grandes celebrações para Baco, o deus do Vinho, com muita comida e bebida, e todo mundo se embriagava a vontade (com vinho, lógico), e o sexo corria solto (nada melhor do que sexo para se celebrar a vida), e verdadeiras orgias se davam nas praças e coliseus bem como no interior das casas e palácios, tanto que até hoje o termo “Bacanal” (literalmente “festa de Baco”) virou sinônimo de sexo grupal.

Currais Novos, Brasil, Século XXI, Festa de Santana 2009, se teve de tudo, comida e bebida a vontade, turistas, gente vindo de todo lugar, pobres e coitados artistas esquecidos, e desempregados, resgatados do ostracismo em nome de uma mera e questionável economia de cachê, casais ficando, casais transando pelos cantos, gente embriagada, gente drogada, garrafada na cabeça, uma morte, brigas, cabra safado vindo da capital só pra se dar bem com as meninas do interior (e conseguindo), gente arrumando confusão (e conseguindo), bêbado vomitando e urinando nas calçadas, roubo e furto, a banda Inalla levando gente pra o palco simulando o coito, dançarinos seminus, safadeza, prostituição e velhinhos boquiabertos e velhinhas simplesmente chocadas. Saldo: uma festa como outra qualquer.

Cadê o sentido litúrgico que deveria permear uma festa para uma santa, cadê os valores cristãos que deveriam está presentes numa comemoração e celebração essencialmente que é uma festa cristã? Perderam-se na renda do leilão e na venda de senhas para as festas?

Tem que se ter uma definição de uma vez por todas, ou a festa é religiosa, com a exaltação do sentido espiritual, ou a festa é profana, que nem uma micareta da vida, esquecendo-se de vez o caráter transcendente e elevado que se deveria ter. O que não dá pé é misturar as duas coisas, como água e óleo, e achar que é normal.

Entenda-se que aqui não me ponho a criticar especificamente esta festa ou esta padroeira, pois aqui apenas tomei como exemplo. Critico sim, e com veemência, toda e qualquer festa que se diz ter um lado religioso e um lado profano, e se dizer isso na maior cara lisa de pau, como se fosse a coisa mais natural do mundo, ou pior, com o único fim de arrecadar dinheiro para o que quer que seja. A festa deve ser ou uma coisa ou outra, ou então, vamos deixar a hipocrisia de lado e voltarmos aos velhos tempos das bacanais romanas.

Como me lembro uma vez, há alguns anos atrás, em que fui à cidade de Frei Martinho, na Paraíba, para uma festa de Nossa Senhora da Guia, quando o palco ficou instalado bem na frente da igrejinha e o cantor da banda de forró qualquer começou o show cantando a todo pulmão “chegou o Chico Rola na casa de Zé Priquito”.

E quem não gostou do que eu disse que vá reclamar com o Bispo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Santana dos Usurpadores

Dos clássicos filmes de John Ford ao mais fuleiro do Spaghetti Westerns existe um tipo de personagem, sempre ligado ao lado negativo, ao que atrapalha, ao que causa incomodo e merece ser exterminado: o índio. Sempre pior que o bandido, o bandido é o inimigo preferencial de 10 entre 10 moçinhos hollywoodianos.
Aqui no Brasil, a expressão “índio”, está sempre ligada à coisa ruim ou bagunça “programa de índio” programa chato, “fulano é que nem índio” igual a fulano é desagradável, “isso aqui é taboca de índio” para dizer que uma casa está suja ou desarrumada.
Mas a verdade é que o Índio sempre foi injustamente associado a aspectos ruins ou negativos. Basta dar uma olhadela imparcial ao longo da Historia do Novo Mundo e se poderá ver que eles foram as grandes vítimas do processo civilizatório europeu que nos foi imposto de goela abaixo. Há até quem compare a chegada de Colombo ao início de um dos maiores holocaustos da de todos os tempos. Povos, nações, idiomas, culturas inteiras (e em alguns casos culturas como a asteca, maia e inca, superiores a cultura européia) destruídas deliberadamente ou não, causando uma perda inestimável a riqueza humana, cuja reparação é impossível e dá trabalho para arqueólogos e historiadores recuperar em pequenas porcentagens.
Aqui no nosso país, as doenças trazidas pelos portugueses foram responsáveis pelo extermínio de populações inteiras de tupis. Não fosse isso suficiente, além de tirar-lhes a dignidade e tomar a força e quase sem nenhuma resistência, a terra a que lhes pertencia por séculos, foi imposto pelo lusitano ao indígena uma escravidão abjeta da qual os livros de história pouco fazem menção. Povos outrora livres, altivos e felizes passaram a viver o pior dos cativeiros, trabalhando para os outros numa terra a que antes era deles, sendo chicoteado, espoliado e roubado continuamente, no que o antropólogo Darcy Ribeiro chamou de “moinhos de gastar gente”, ou fornalhas de consumir pessoas. Às índias foram impostos castigos ainda piores, além de vítimas da escravidão e do roubo, elas foram vítimas de estupros sistemáticos e cruéis. Os portugueses, após meses de viagem em fétidas caravelas, fedendo a podre, cheios de lepra, de feridas e escorbutos viam na pele lisa, limpa e saudável das indiazinhas algo que podiam devorar sem dó nem piedade arrancando-as do paraíso que viviam e jogando-as no pior dos infernos. O historiador Gilberto Freyre dizia que os marinheiros de Portugal “afundavam o pé na carne” sem pena.
Quando se fala na colonização européia das Américas em relação aos índios tenha-se em mente a seguinte visão exemplificadora bem simples. Um sujeito vem de longe, você o recebe em sua casa, só que este sujeito rouba sua casa, se apropria da sua casa, mata seu filho, estupra sua mulher e sua filha, tira sua dignidade e ainda lhe obriga a trabalhar para ele como escravo e sob chicotada no lombo. Pois foi isto que os ingleses fizeram na América do Norte, os franceses no Canadá, os espanhóis na América Latina e os portugueses aqui no Brasil.
O espetáculo do Auto de Santana deste ano passou de todos os limites ao mostrar os índios como seres a ser combatidos e um patético Tupã, como uma entidade malévola a ser vencido pelo “poder” de Sant’Ana. Para quem não sabe Tupã não tem nada de malévolo nem satânico, é sim parte de uma mitologia altamente rica e complexa e infelizmente pouco conhecida, e que os Jesuítas no Século XVI associavam a figura de Jesus para facilitar na catequese dos índios.
Isto só significa que para certas pessoas roubar, matar e estuprar não foi suficiente e deve-se acrescentar difamar a memória e tiranizar aqueles que originalmente foram e são as verdadeiras vítimas, os índios.
Ofender a imagem dos índios e desdenhar do que foi sua crença demonstra um ato cruel e de nenhuma caridade cristã e com certeza a Sant’ana desenhada como a misericordiosa avó do Messias não gostaria de ver associada sua imagem como a de padroeira dos ladrões e usurpadores.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Flashes do passado, flertes com o futuro

O ano era 1991, Collor era o presidente da República e a moeda brasileira era o cruzeiro. Na televisão, “O Dono do Mundo” brigava com “Carrossel” pela audiência e o Papa João Paulo II fazia sua segunda visita ao país (... bem menos prestigiada que a primeira, diga-se de passagem). O mundo era outro, a moda era outra, MP3 e Orkut seriam peças de ficção científica e os celulares eram tão caros, grandes e pesados que comprá-los não valia a pena.

Neste ano, a história humana deu uma reviravolta que espantou a todos. O desfazimento da Rússia (então União Soviética) enquanto potência antagônica a hegemonia capitalista americana, acabou com os sonhos daqueles que acreditavam no socialismo real e até na possibilidade de êxito de uma possível ditadura do proletariado.

Para onde olhássemos via-se as coloridas e estridentes propagandas do capitalismo vencedor. A burguesia cantava sua vitória, muito embora tanto naquele tempo como hoje, muita gente ainda revire o lixo em busca do que comer.

Nesse ambiente, certo historiador nipo-americano chamado Francis Fukuyama foi à imprensa mundial e cunhou a sua famosa frase “... a história acabou...”. O contexto era o fim da guerra fria e queria dizer ele que o mundo entraria numa fase de prosperidade e democracia, livre das garras do Estado e regulado pelas “mãos ‘sábias’ e invisíveis” do mercado.

Nunca li nada de Francis Fukuyama, nem conheço a fundo seus escritos, nem a sua obra, mas sempre tive uma grande rejeição e antipatia por esta pessoa.

Diante das convulsões que a crise econômica americana que levou ao mundo recentemente a um beco sem saída, a falta de liquidez e principalmente o excesso de meio circulante SEM LASTRO, associado a ganância sem conseqüências está levando o mundo a beira do precipício e o que era sólido, desmancha-se no ar, e vejo agora, esse mesmo Fukuyama, todo sem jeito, se explicando sobre sua esdrúxula teoria.

A crise de 2008/2009 mostra um longínquo 1991, o mercado não tem, como nunca teve, uma “mão sábia e invisível”, muito pelo contrário, o que tem são tentáculos, como os de um monstro, para lá de visíveis, e que expõe aquilo de pior que pode ter o ser humano, a cobiça e a indiferença para com o próximo.

Quem, naquele distante 1991, imaginaria que empresas “sólidas” como a GM, a Enron, a Chrysler, IBM, a International Paper, entre muitas outras, estariam com o pires na mão, humildemente mendigando recursos do Estado? Quem imaginaria que os EUA, o farol máximo do capitalismo, estariam ESTATIZANDO empresas em nome da preservação de empregos?

Tudo isto era impensável no passado. Mas e o futuro, o que devemos esperar? Voltar a investir no socialismo real e na ditadura do proletariado, mesmo sendo o mais justo, não seria o de todo factível, visto que não existe no momento, pelo menos até onde eu saiba, nenhuma grande revolução em andamento. Continuar com o capitalismo selvagem e desregulado e desregulamentado, mesmo com a burguesia “véeia” querendo, também não dá, visto que não há mais espaço, nem dinheiro, nem financista safado e cara-de-pau de Wall Street que queira, mesmo porque nem os EUA agora apoiariam isto

Então, o que nos resta? Talvez a perspectiva de uma sociedade menos materialista e mais humana e solidária, onde as empresas sejam menos importantes que as pessoas. Uma democracia plena e participativa (graças a Internet), sem ditaduras nem de direita nem de esquerda. Um Estado social forte e presente na sociedade, regulando-a e protegendo-a, sem fisiologismo, nem “trem-da-alegria”, nem corrupção. Um Estado que seja capaz de proteger o cidadão dos financistas de chifre, tridente e enxofre lá de Wall Street.

Enfim, um mundo melhor e um Brasil menos injusto socialmente, mais forte e competitivo (...rogando-se ao Criador para que o DEM, e tudo o que este partido representa, não chegar a Presidência da República...)

Diante disto tudo, só me vem a mente aquela música do R.E.M, que fez grande sucesso em 1991, "It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)".

domingo, 10 de maio de 2009

A Mulher pode!

Para as mulheres sempre foi relegado um papel secundário na sociedade ao longo da história. De objeto sem vontade própria a cidadão de segunda categoria, de “res” a mero bibelô sexual. Povoadora de Harém, repleta de mimos, contudo sem personalidade, ou sinhazinhas presas nas casas grandes da vida, prometidas em casamento para homens que geralmente não conheciam. A coisificação da fêmea sempre foi uma constante.
Tudo isto, de fato fez com que as mulheres ficassem aquém do homem em muitos aspectos, não por incapacidade da mulher em si, mas por um vasto cabedal de opressão a que ficaram sempre sujeito ao logo do tempo. Para se ter idéia, até meados do século passado, as mulheres eram proibidas até de aprender a ler, ou tocar um instrumento musical. Isto tudo sem falar na mais mesquinha das proibições, pois à mulher era terminantemente vetado o prazer sexual, seja ela honesta, de família, ou prostituta, aquela porque tinha que dar “exemplo”, esta por não ser “absolutamente nada”. Até hoje, em muitas culturas, principalmente na África e Oriente Médio, ainda se pratica a “circuncisão” feminina, que se constitui na extração cirúrgica e ritualística do clitóris, justamente para inibir, ou dificultar ainda mais qualquer sensação orgástica para a mulher.
E a repressão a mulher não é exclusividade dos cantos pobres do Planeta Terra não, nem tão pouco, nos países ricos dar-se tratamento mais igualitário, muito pelo contrário a Suíça só reconheceu o sufrágio feminino no início dos anos 1970, em Liechtenstein, país localizado entre a Alemanha e Áustria, portanto coração da Europa, mulher não vota nem pode se candidatar a nenhum cargo público. As estatísticas dizem também que Japão, Finlândia, França e EUA são nações campeãs em agressão doméstica a mulher e estupro. E por falar em EUA, há até quem diga que o partido Democrata de lá preferiu Obama como candidato por ter a certeza absoluta que seria muito mais fácil eleger um negro que uma mulher, no caso Hilary Clinton, tudo isso por causa do intransigente chauvinismo reinante no meio-oeste norte-americano.
Além dos usuais sofrimentos decorrentes da biologia (tais como TPM, dores do parto e por aí vai), a sociedade, geralmente fundada em bases patriarcais coloca às mulheres sofrimentos indizíveis, longe de poderem ser reparados com meros cavalheirismos.
A opressão machista que se impõe às mulheres ao longo dos séculos tem explicações das mais esdrúxulas, nunca tendo, ou sendo levado em consideração o ponto de vista da parte mais fraca nessa relação.
Para as mulheres sempre foi negado absolutamente tudo, o direito sobre o próprio corpo, a faculdade de exercer sua própria vontade e guiar o seu destino. Independentemente de origem, ou classe social, negar era, e ainda é, o verbo mais empregado com relação às mulheres.
Digo tudo isso porque ouvi recentemente de um amigo uma colocação no mínimo curiosa, dizia ele: “... fui educado na crença de que a mulher não mentia, não roubava, não ‘veacava’, não matava, hoje estou chocado, pois o que mais vejo é mulher mau caráter, velhaca, ladra, assassina, tudo que não presta...” e pior, que este meu amigo não dia isto em tom jocoso, de brincadeira não, dizia isto SÉRIO.
Mas será possível um negócio desses? Querem negar às mulheres até isto! O machismo imperante e relutante das conquistas feministas, obtidas a duras penas ao longo do último século, quer negar até a faculdade de escolher entre ser boa e ser ruim, de não prestar, de ser má, também é proibido às mulheres!!!
Isto só mostra que, além de não ser reconhecido seu lugar de direito na história humana, de na maioria das vezes ganhar menos e trabalhar mais, além de sofrer violência doméstica, além de ser desfavorecida pela biologia, além de tudo isto, e um pouco mais, a mulher NÃO pode ter um caráter duvidoso?
Que absurdo!!! Isto é o mais daninho dos preconceitos, atribuir à um gênero uma qualidade, virtude ou defeito perene, inerente a sua condição. Ser bom ou ser ruim são escolhas inerentes ao livre arbítrio atribuído ao ser HUMANO enquanto espécie, não um atributo específico de um determinado sexo. Se for tomar ao pé da letra o que o meu amigo disse, a simples escolha ou inclinação de personalidade também é proibido às mulheres
Por isso que digo, Mulheres sejam iguais, nada vos distingue do mundo dos machos. Vocês podem ser absolutamente tudo, inclusive serem más.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tristes Flashes no STF

O Supremo Tribunal Federal. A corte maior do Brasil. A última instância. O guardião único da Constituição. Uma instituição que, justamente pelo seu caráter de órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro, se espera equilíbrio, ponderação e sapiência dos seus membros, protagonizou no último dia 22 de abril de 2009, um dos momentos mais patéticos e deprimentes a que este país já teve a oportunidade de ser “obrigado” a assistir, e olha que momentos patéticos e deprimentes são quase uma triste constante na História deste nosso sofrido país.

O bate-boca inútil estrelado por Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa não expôs somente um mero desentendimento sobre um tópico jurídico, mostrou em rede nacional, pra todo o mundo ver, o nível baixo a que se chegou o respeito as instituições. Pois se os próprios membros daquela corte não se respeitam, o que dirá de nós, meros jurisdicionados cá em baixo, em serem considerados em suas decisões; e pior, como exigir de nós respeito a suas decisões quando eles mesmos não se respeitam?

E não estamos falando aqui de uma simples Turma Recursal de Juizado Especial, estamos falando da CORTE SUPREMA do país. Aliás, já tive a oportunidade de acompanhar julgamentos de Turmas recursais, aonde a civilidade, a urbanidade, o equilíbrio, ponderação nos julgamentos e sobretudo conhecimento e “estofo” jurídicos estavam muito mais presentes e constantes do que nesse triste, e lamentavelmente irreversível, momento da historia do STF.

A corte maior do país, aquela cujos julgamentos têm “quase” força de lei, aquela a que compete dizer o que é ou o que não é constitucional no Brasil, virou motivo de piada, de chacota, o cidadão comum não vai mais olhar o Supremo como um lugar em que o subjetivismo do mundo jurídico ganha forma palpável e sim como um lugar aonde um bocado de velhos alienados e corruptíveis vociferam uns contra os outros.

O órgão que deveria zelar pela Constituição brasileira virou um “cabaré”!

Não compete a mim, na minha “pequenez” jurídica, dizer quem tem ou tinha razão no chafurdo entre o Ministro Gilmar e o Ministro Joaquim, logo não tive acesso aos autos e, nem sequer, com precisão sei do que trata, ou como se diz em bom “juridiquês” não compete a mim entrar no mérito da questão. O que me incomodou e me deprimiu foi a FORMA com se deu debate.

Troca de insultos, adjetivos fortes, ofensas pessoais, tudo isto vindo de homens que tem como mister dizer o que é certo ou errado no país (...pois como dizíamos jocosamente na Faculdade acima do STF só apelando pra Deus...), e agora vendo seus membros se engalfinharem daquele jeito, pois se aquilo continuasse por mais quinze minutos ia acabar que nem o parlamento de Taiwan.

Existem formas e formas de não se concordar com um julgado ou com um voto nas decisões colegiadas de Cortes como o STF, como também existem mecanismos apropriados de expor indignação e não concordância com este ou aquele julgamento, e todos aqueles senhores e senhoras que compõem aquela corte sabem disto. Não precisava de modo algum baixar o nível como baixaram.

Um país não se ergue e adquire ares potência com poderio econômico ou militar, mas sim com profundo, imaculado e INCONTESTÁVEL respeito às instituições, seja ela de que poder da república for, e, sobretudo do Poder Judiciário, e com certeza o cidadão comum que teve a chance de assistir aquela cena não vai mais olhar o STF com os mesmos olhos.

Patriota como sou, nunca me imaginei dizendo esta frase, mas quando vi o que vi o que passou nas entranhas do STF, por um momento senti vergonha de ser brasileiro.

sábado, 7 de março de 2009

As algarobas de Acari e o Apocalipse Ecológico

A entrada de Acari (RN), no sentido de quem chega de Natal, tinha uma das paisagens mais belas que já vi na vida. As algarobas de folhas tênues projetavam sobre a estrada uma sombra suave, que ao vê-las em manhãs claras de sol sempre inspirava o sublime e dava vontade de ouvir algum concerto de Vivaldi. O verde persistente e resistente deste lugar heroicamente contrastava, em qualquer época do ano, com a secura cinza tão característica deste Seridó potiguar. Contrastava, este é o tempo verbal correto, pois da última vez que passei por ali, as algarobas de folhas tênues, sombra suave e verde exuberante, estavam todas no chão, sobrando apenas tocos insípidos, destruído metade do encanto e da beleza que Acari, ainda tinha.

Uma espécie de revolta contraditoriamente resignada ao ver aquele atentado ao meio ambiente, e sobretudo, ao senso de estética natural, se abateu em mim, nada pude fazer para salvar aquelas centenárias árvores acarienses.

Mas o que seriam aquelas algarobas diante da destruição completa e irreversível da Mata Atlântica, a extinção das onças e a matança indiscriminada de preás, pebas e outros bichos da fauna nordestina, ou a aniquilação da Floresta Amazônica ao ritmo alucinante equivalentes a vários campos de futebol por dia, ou o degelo das calotas polares pela ação das chaminés de indústrias do mundo desenvolvido, ou ainda o lixão do tamanho da Austrália que está se formando no meio do Oceano Pacífico, cuja a toxidade está mudando o ecossistema e até alterando o DNA de algumas espécies marinhas causando sofrimentos indescritíveis para milhares de animais e a aniquilação da flora marinha daquela parte do globo, ou mais, o lixão espacial que está se formando acima da estratosfera, constituído de milhares de restos de satélites, e sobras dos programas espaciais das grandes potências, que agora está se despedaçando e batendo uns nos outros, que segundo a NASA pode cair nas cabeças da gente numa verdadeira chuva de lixo?

A resposta é tudo e nada ao mesmo tempo. Pois o problema é muito maior e mais complexo que se pode imaginar. A questão ecológica prescinde de fronteiras, não conhece procedência, nem nacionalidades, é grave, é urgente e, infelizmente, não tem resposta simples e imediata de curto prazo, pois a culpa é exclusivamente nossa. Nós, Homo Sapiens, é que somos os responsáveis únicos por este estado de coisa. Por mais consciência ambiental que procuremos ter.

Tome-se, por exemplo, as algarobeiras tombadas de Acari. Elas não foram ao chão gratuitamente, elas foram para servir de lenha, seja para alguma padaria ou para alguma cerâmica. E aí? Vamos parar de comer pão, ou cobrir as nossas casas com telha por causa disto? Certamente que não. Isto significa que nós, todos nós, somos co-participes e cúmplices da matança do Planeta Terra que perpetramos todos os dias, e muito dificilmente esta mesma raça humana abrirá mão das comodidades modernas em prol da sobrevivência de algumas espécies animais ou vegetais. E temos que ser francos, por mais que doa, a tendência é só piorar.

A reciclagem e a idéia de conscientização ecológia são boas, necessárias, bem-vindas e mais que aceitáveis e dignas do apoio de cada pessoa consciente deste planeta. Mas agora, diante do estágio atual de degradação ambiental não é capaz de reverter o estrago já feito, e no máximo o que pode fazer é só retardar o inevitável, o mundo está próximo do colapso dos recursos naturais.


O que conforta e consola é o fato de que a Terra, segundo a Hipótese Gaia, é um “ser” que existe há milhões de anos, já existia bem antes de aparecermos como espécie, e com certeza ainda existirá por alguns bons bocados de anos depois que o último ser humano perecer. E quando isto acontecer, só restará a lembrança e o arrependimento por não termos cuidado bem da “casa planetária” que Deus entregou para nós, raça humana, sobrevivermos, e quando isto acontecer, será tarde demais... ... ...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

PSEUDOSONETO DA DESPEDIDA

Eis o fardo dos sonhos não realizados
Eis o escape dos suicidas desencantados
Eis o preço pago do amor não correspondido
Eis a tristeza do poeta por aquele verso perdido
Eis, enfim, o sentimento que não é trocado
que era eterno, mas na verdade passageiro
Eis a expressão que se sente por inteiro
daquele momento jamais realizado

PSEUDOSONETO DA DESPEDIDA

Eis o fardodos sonhos não realizados
Eis o escapedos suicidas desencantados
Eis o preço pagodo amor não correspondido
Eis a tristeza do poetapor aquele verso perdido
Eis, enfim, o sentimento que não é trocado
que era eterno, mas na verdade passageiro
Eis a expressão que se sente por inteiro
daquele momento jamais realizado

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

NUNCA TANTOS PAGARAM TANTO POR TÃO POUCO

“Nunca tantos deram tanto por tão pouco”, a frase dita por Winston Churchill em razão do sofrimento impingido ao povo inglês na cruel e sangrenta Batalha da Inglaterra na II Guerra Mundial, se encaixa perfeitamente nos dias de hoje, agora trocando o verbo “dar” pelo “pagar”.

A atual crise financeira mundial colocou em xeque princípios básicos do capitalismo liberal, mudou conjunturas internacionais e principalmente fez o Ocidente parar para pensar, afinal, aonde se quer ir, com toda aquela busca frenética e sem escrúpulos pelo capital, busca esta que pode prejudicar outrem e, conseqüentemente, a si próprio.

Governos de países de todo o Planeta Terra tiveram que desembolsar milhões para evitar que o sistema bancário global se desmanchasse feito gelo sob o sol quente.

O Estado, antes atacado pelos financistas liberais como o entrave ao Laissez-faire, agora representa o bote salva-vidas nestes mares revoltos que hoje afogam os sonhos de grandeza, cobiça e ganância dos operadores de Wall Street e seus asseclas mundo à fora. Parece até mesmo que é de uma fina ironia, se fosse perceptível a olhos vistos pelos causadores desta crise... Os risonhos e inescrupulosos grandes banqueiros internacionais, gordos e rosados anglo-saxão, fumando charuto cubano falso feito em Miami e se deliciando num bom whisky 30 anos vendo os Estados, por eles mesmos antes atacados, agredidos e ofendido por anos, socorrerem suas finanças, enquanto a sociedade mundial, como um todo se sacrifica e paga o pato nesta história toda.

Há quem diga que o estouro da bolha desta espiral especulativa era uma questão de tempo, quem acompanha o noticiário econômico nos últimos 15 anos pode ver que como num efeito dominó, país a país caia na desgraça econômico, e agora, chegou na última peça do dominó, o “tão” poderoso Estados Unidos, carregando consigo o tal Primeiro Mundo.

Como se chegou nesta situação? Simples, os EEUU sempre foram referência no capitalismo, uma espécie de porto seguro para investimentos. Na força da economia doméstica americana, se creditava que emprestando recursos aos ianques para aquisição da casa própria, ter-se-ia retorno garantido, com juros e correção. E haja financistas do mundo todo investir verdadeiras fortunas no mercado imobiliário americano, no entanto a desastrada e estúpida política direitista do conservador George W. Bush sugou boa parte da poupança interna estadunidense em tudo, menos no interesse da população de seu país, e mais na ocupação do Iraque e Afeganistão, daí sumiu boa parte daquilo a que os financistas esperavam receber e o dinheiro que movia o grosso da economia mundial sumiu. Eu sei que esta é uma explicação simplista de um problema altamente complexo, mas se for trocar em miúdos, no fundo no fundo, é isto mesmo.

Resultado, falta de dinheiro circulando, e quando o existe dinheiro circulando, ele é sem lastro, com isto nações inteiras vão direto para o fundo do abismo, fábricas fecham e empresas vão a falência. Corporações seculares na beira da concordata com pires na mão, marcas comerciais inabaláveis sendo encerradas, demissões em massa, desemprego, desespero, pais de família aflitos sem saber como trazer comida e conforto para casa, e o que antes representava o sonho contente da estabilidade tão presente na pequena burguesia virou o pesadelo da iminência “eminência” miséria!!! Tudo isto para que? Tudo para poder socorrer meia-dúzia de risonhos e inescrupulosos grandes banqueiros internacionais, gordos e rosados anglo-saxão, fumando charuto e se deliciando num bom whisky 30 anos que agora vêem o mundo pegar fogo enquanto tocam uma lira encantada de alienação tal qual Nero diante da Roma em chamas...

A esperança é que se sobressai desta crise é que o Mundo Ocidental reveja seus conceitos, não só numa presença mais forte e incisiva, e, sobretudo necessária, do Estado na economia, principalmente na regulamentação, fiscalização e vigilância nas transações financeiras supranacionais, mas também numa nova filosofia de vida em que as pessoas não priorizem tanto o ganho financeiro, a valorização do dinheiro, em detrimento de valores mais básicos, subjetivos e morais da vida e da existência.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O preço da Ousadia

Recentemente a Rede Globo de Televisão exibiu uma mini-série baseada na vida da cantora Maysa Monjardim Matarazzo, popularmente conhecida somente por Maysa, e fiquei impressionado com a quantidade de gente que chegava e dizia, “quem é essa cantora?” ou “nunca ouvi falar dela”. Não que eu ache que seja obrigação das novas gerações de conhecê-la, muito pelo contrário, isto só mostra a efemeridade do sucesso, pois uma pessoa que era mais que conhecida e era uma das maiores recordistas de venda de disco nas décadas de 1960 e 1970, caiu quase que completamente no esquecimento.
A série, muito bem escrita por Manuel Carlos, mostra Maysa com uma personalidade dúbia, uma mulher pernóstica, arrogante e até mesmo um tanto alienada contrastando com a musicista fantástica, talentosa e brilhante compositora e a cantora de voz educada e potente. Contudo, independentemente disto, Maysa era uma mulher a frente do seu tempo, vanguardista, contestadora, com coragem, por exemplo, para dizer um palavrão em cadeia nacional de TV, numa época em que as mulheres em geral mal tinham seus direitos devidamente reconhecidos.
Outro ponto exposto nesta telebiografia de Maysa é o seu lado adicto, fumante e bebedora compulsiva, quase uma alcoólatra, não dispensava o uísque nem mesmo durante suas apresentações ou recebendo um prêmio pela sua carreira.
Isto me faz lembrar outra grande cantora, igualmente contestadora e vanguardista, e assim como Maysa, também incompreendida, que pagou com a vida a compulsão por álcool e fumo, Janis Joplin.
Janis, nascida no preconceituoso e arcaico estado americano do Texas, ousou em ser uma das primeiras cantoras brancas a cantar o ritmo negro do Blues, isto num tempo em que em boa parte dos estados americanos, inclusive no Texas, existia uma cruel e dura política oficial segregacionista de fazer inveja ao apartheid sul-africano, em que negro não podia nem sonhar em tocar em branco, e qualquer aproximação dos brancos aos negros era vista como rebaixamento.
Janis Joplin suplantou isto e com audácia ajudou a transformar em clássicos universais da música as pérolas do Blues negro norte-americano.
Maysa e Janis Joplin, tirando a questão do vício e o fato de ambas terem morrido jovens e de forma trágica, têm pouca coisa em comum, provem de realidades inteiramente distintas, uma cantava Blues a outra Samba, Bolero e Bossa, uma brasileira a outra americana, com certeza nunca se encontraram, muito embora tenham vivido a mesma época, os conturbados anos 60 e 70 do século passado, mas ambas tinham algo em comum, a faculdade inovadora, forte, que abriu ou ajudou a abrir as portas da coragem e da ousadia para as mulheres das gerações que lhes foram posteriores.
O que faz artistas geniais e completos que nem Maysa e Janis Joplin serem tão fáceis de serem tragados e mergulhados numa melancolia tão profunda? Talvez, para elas e para muitos outros, a exata proporção do talento está ligada a tristeza e a falta de amor próprio, ou talvez, a solidão proporcionada pela genialidade ou talento, ou ambas as coisas, só suplantada pelo escape fácil do vício. Ou talvez ainda este excesso de vida que acomete a tantas pessoas dadas às artes, lhes tire a noção de limite. Ou quiçá esta angústia só sanada pelo abuso e a compulsão seja o irremediável preço da ousadia? Enfim, nada sei, só sei que deixo mais estas indagações e caraminholas para serem debulhadas por quem se depuser a fazê-lo.
Só sei que o legado e conjunto das obras tanto de Maysa quanto de Janis Joplin, suplantam até suas próprias criadoras e serão sempre lembrados, seja de uma forma ou de outra.