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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Olimpiadas no Rio?

Surpresa! Uma boa surpresa! O Rio de Janeiro foi escolhido para ser a sede das Olimpíadas de 2016! Confesso que, não obstante minha brasilidade radical, estava cético quanto a escolha da capital fluminense, tanto que não fazia nem questão de torcer. Principalmente tendo rivais de peso como Madrid, Tóquio (que já sediou Olimpíada antes) e Chicago (com todo o “marketing” de Barack Obama).

Mas a vitória foi anunciada e a cidade maravilhosa vai ser mesmo a capital dos esportes de verão daqui a sete anos. A primeira cidade na América do Sul (... morra de inveja, Buenos Aires...), a segunda da América Latina, e a quarta no hemisfério sul a ter a graça de ter no seu seio atletas de todo o mundo numa celebração da paz e dos esportes. Esta é uma honraria para pouquíssimos, e uma chance única de mostrar ao Planeta Terra uma nova face do Brasil, como um país estável, desenvolvido, democrático associado a já nossas tradicionais características da tropicalidade, jeito espontâneo de viver.

Mas aí vem o grande desafio. Não devemos cantar vitória constantemente, nem deitar nos “louros” da vitória. Por ser a chance única de mostrar ao globo uma nova e decente face brasileira, não podemos decepcionar.

Por mais que se seja nacionalista intransigente e de gostar de ver o Brasil ter alcançado esta importante vitória, há certos fatos que não se pode negar. O Rio de Janeiro é uma cidade empobrecida, falida, com gravíssimos problemas sociais, e sem importância econômica ou política. As favelas são uma mancha na paisagem aérea da cidade e um problema ancestral de difícil solução, que nem um muro, a descriminação e a indiferença dos “do asfalto” podem solucionar. Alias, a gravidade dos problemas sociais da Cidade Maravilhosa, não pode mais ser ocultada com tanques do Exército nas ruas (como fizeram na Eco’92) nem com a remoção compulsória dos moradores de rua (quando dos Jogos Pan-americanos de 2007). Maquiar a cidade para o evento e depois jogar tudo como era antes não é justo nem correto para com seus habitantes, nem com os turistas que saem com uma visão ilusória.

Existem lugares no Rio de Janeiro, principalmente nos morros, onde o estado simplesmente não consegue entrar. Anos de negligência dos governos anteriores, fizeram com que o tráfico organizado de drogas tomasse conta de comunidades inteiras e, que por meio da intimidação ou de um assistencialismo barato, a atividade criminosa conta com o “apoio” da população destes locais.

Hoje, o Estado busca entrar e retomar estas comunidades, e não só pela força policial, mas com políticas sociais de inclusão efetivas, mas está sendo muito difícil. É quase impossível mudar em pouco tempo o que foi sedimentado em décadas e gerações. Os noticiários não cansam de mostrar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal paralisadas por “determinação” dos traficantes, ao lado de imagens de truculência policial (a ação dos BOPE’s da vida), pobreza generalizada, favelas feitas de papelão com esgoto em céu aberto e pessoas sujeitas às mais terríveis privações em quadros que não nos fazem ver distinção entre o que se tem no Rio e o que se pode ver nos mais pobres países africanos.

Como é que uma cidade dessas quer sediar uma Olimpíada?

Não adianta maquiar o Rio para o evento e deixar seu povo na situação em que se encontra. Não adianta utilizar os milhões que serão investidos em urbanização na área nobre, Tijuca ou Zona Sul, e esquecer os morros e as populações lá esquecidas e reféns (em todos os sentidos) da marginalidade.

Maquiar a cidade e ocultar os seus problemas sociais, sem resolvê-los, já foi feito antes, e quando o evento vai embora, quem sofre são os que ficam, pois as mazelas voltam com a força reprimida do período em que esteve oculta, justamente por não ter opção.

E este é o meu receio. Que tudo isto aconteça novamente em 2016.