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terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Embate Político (I)

A política partidária brasileira tem características muito próprias que a diferem da política partidária de qualquer outro canto do Mundo.
Aqui, os partidos políticos não têm ideologias, nem representam correntes de pensamentos, muito menos carregam bandeiras de minorias, nem tampouco falam por grupos étnicos.
Os partidos políticos no Brasil, salvo honrosas e pontuais exceções, tanto na direita como na esquerda, assemelham-se mais a clubes, em que os filiados podem se filiar e se “desfiliar”, com a mesma facilidade com que se troca de carteirinha de clube de natação ou de futebol (... aliás, se ver mais fidelidade a certos times de futebol do que a ideologias de partido).
Os próprios partidos não se levam a sério, eles mesmos se assumiram mais na condição de agremiação efêmera do que agrupamento de posição política. Eles incorporaram este espírito carnavalescos pouco sério, e se tornaram mera “sopa de letrinhas” para defender este ou aquele interesse INDIVIDUAL e nunca o COLETIVO.
Existem as mais diversas tentativas de explicar este “fenômeno”, desde a daqueles que dizem que isto é fruto da vontade reprimida do povo diante os vinte anos de bipartidarismo forçado durante a ditadura (a dicotomia artificial ARENA e MBD) até os que advogam que isto está na natureza simplista do DNA político brasileiro, partindo da dualidade entre conservador e liberal que existiu desde os tempos do Império chegando aos grupos dos de quem está no governo e quem está contra, nos dias de hoje, ou melhor dizendo nos dos que estão com o “osso” e não querem largar dos que estão com vontade de pegar o osso.
Alguém já ouviu falar em PHS, PRTB, PRB, PT do B, PMN, PCO, PSC, PSDC, PPS, PRN, dentre muitos e muitos outros? Legendas absolutamente vazias, sem ideologia, sem estatuto definido ou com estatuto vagos, sem posição no espectro político e sem propostas, só servindo de mero “clube partidário”, cabide ou trampolim pra meia dúzia de espertalhões TENTAREM alçar espaço na vida pública e ficar com o osso na boca até não poder mais.
Lógico, claro e evidente, que as medidas em prol da fidelização partidária lançadas pelo próprio Poder Legislativo e lastreadas pela Justiça Eleitoral (Poder Judiciário) buscam parar com esta farra toda, já tendo até algumas vítimas “ilustres” como o fedelho otário Walter Brito Neto que entrou para a história por ser o primeiro deputado a perder o mandado por infidelidade partidária, pois se elegeu pelo DEM da Paraíba e quando chegou ao Congresso, tentou vazar pro PRB.
Isto tinha acontecer mais cedo ou mais tarde, esta moralização partidária tinha que acontecer sob pena do carnaval partidário se aprofundar ainda mais. Contudo, parafraseando o grande poeta paraibano Augusto dos Anjos, “... a mão vil que afaga e a mesma que mão apedreja...”, pois as mesmas regras que buscam a dar seriedade a fidelização partidária no país permitem certas burlas que deixam passar quase o mesmo carnaval de antes, basta achar um bom, competente (e caro) advogado, com trânsito regular no TSE ou nos TRE’s da vida, para que entre uma brecha e outra se permita que se troque de partido como se troque de camisa do mesmo jeito que antes.
Nisso tudo, só quem se confunde (ou se lasque) é o coitado do eleitor, que se acostumou e ver um fulano ou sicrano vestindo as cores de um partido e de uma hora para outra, por um motivo que poucos conseguem alçar, vestir a cor de outro partido totalmente diferente, e pior, fazer isto como se fosse a coisa mais legítima do mundo, quem antes estava lado a lado num palanque, de um momento para o outro passa a se engalfinhar nas ruas, e quem a gente jurava ser inimigo mortal um do outro, num passe de mágica, se tornam aliados e trocam-se afagos em via pública.
O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) já dizia que “... a política é a arte do possível...”, e no nosso Brasil esta frase assume contornos ainda mais inimagináveis, e inexoravelmente, expandindo as fronteiras do possível.
Não vou julgar se isto ou aquilo é positivo ou negativo, mas que todo carnaval tem limite, principalmente este carnaval político que vivemos, a isso tem que ter, pois só depois da “quarta-feira de cinzas” é que se vem a quaresma, e necessitamos de uma “quaresma política”.