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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Brasil no Tabuleiro do Jogo do Mundo

Certo dia, o meu grande amigo Zandro chegou lá no meu local de trabalho e me jogou uma cópia Xerox de uma reportagem da revista de Veja de 14 de julho de 2010, acrescentando provocativamente: “... quero ver você defender o seu governo depois de ler isto...”.
Então comecei a ler a tal reportagem, muito embora soubesse que essa revista não tem mais a credibilidade de outrora, se é que algum dia já teve qualquer credibilidade, pois a postura editorial da Veja e do Grupo Abril é tão parcial e tendenciosa que chega a ser cômica. Mas por curiosidade e também por consideração ao amigo, li a tal matéria.
Nela, certa jornalista, Ana Cláudia Feitosa, com a ferocidade de um cão raivoso latindo avidamente enquanto escorre babas de ira critica a posição política do Itamaraty em se aproximar de pequenos países africanos, alegando em síntese que estes não são democráticos, expelindo rancor em prol de uma liberdade e democracia que pouco consegue definir.
O argumento simplório da revista não mostra que no jogo diplomático internacional existem mais mistérios e entrelinhas do que pode imaginar a nossa vã filosofia.
Não vejo os que criticam o posicionamento do Itamaraty no tabuleiro do jogo político mundial, criticar com a mesma veemência a política americana, nem o “American Way of Life” quando este também ataca, apóia ou financia sanguinárias guerrilhas de direita na África e na Colômbia.
Quando vi a foto de Guillermo Fariñas, que ilustra a dita reportagem, só me lembrei das fotos mais tristes e chocantes das crianças famintas na Etiópia dos anos 1980. Lembrei-me que os rebeldes do Deserto de Ogaden (apoiados exclusivamente pelos EUA) ‘gostavam’ de roubar cargas com ajuda humanitária só para ter o “prazer” de ver o povo passar fome e desestabilizar o governo etíope de então, ligado ao grupo dos não-alinhados.
E nem precisa ir muito longe, no tempo e no espaço, para detectar incongruências na política externa do Tio Sam, pois todos, eu disse todos, os “ridículos tiranos da América católica” (parafraseando Caetano Veloso), inclusive do nosso Brasil 1964-1985, foram bancados e lastreados pelo “maior defensor do mundo livre”, os EUA .
Então embarcar nessa “viagem” de atitude moral, no campo das relações diplomáticas, se não for ridículo, é no mínimo risível.
O Brasil faz bem em ocupar os espaços em branco no mundo, nisso concordo com o ex-ministro do desenvolvimento, Luis Fernando Furlan, Essa é a estrada dos tijolos dourados que temos que percorrer para nos tornarmos uma potência. Se não o fizermos, outros o farão. A China está fazendo isso agora, as potências decadentes do velho mundo (França, GB, Alemanha) já o fizeram, os EUA ainda o fazem. Então, por que não nós?
Mas aí, alguém pode argumentar: “esses países africanos são insignificantes”. Não importa. Espaços vazios existem para ser preenchidos, seja a Guiné Equatorial, ou a Jamaica, ou Santa Lúcia, ou a Suíça ou a França. Temos que tirar dividendos políticos, os dividendos econômicos vêm no rastro, temos que ser pragmaticamente frios como disse o chanceler Celso Amorim (que não é do PT).
O “isolacionismo” pregado pelos conservadores brasileiros mais parece com viralatismo com complexo de inferioridade.
Além do mais, não vou atacar, nem “cuspir no prato” de um modelo de Estado que acho mais justo e equânime, se o modelo de estado que NÃO acho considero justo nem equânime faz igual ou pior.