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sábado, 7 de março de 2009

As algarobas de Acari e o Apocalipse Ecológico

A entrada de Acari (RN), no sentido de quem chega de Natal, tinha uma das paisagens mais belas que já vi na vida. As algarobas de folhas tênues projetavam sobre a estrada uma sombra suave, que ao vê-las em manhãs claras de sol sempre inspirava o sublime e dava vontade de ouvir algum concerto de Vivaldi. O verde persistente e resistente deste lugar heroicamente contrastava, em qualquer época do ano, com a secura cinza tão característica deste Seridó potiguar. Contrastava, este é o tempo verbal correto, pois da última vez que passei por ali, as algarobas de folhas tênues, sombra suave e verde exuberante, estavam todas no chão, sobrando apenas tocos insípidos, destruído metade do encanto e da beleza que Acari, ainda tinha.

Uma espécie de revolta contraditoriamente resignada ao ver aquele atentado ao meio ambiente, e sobretudo, ao senso de estética natural, se abateu em mim, nada pude fazer para salvar aquelas centenárias árvores acarienses.

Mas o que seriam aquelas algarobas diante da destruição completa e irreversível da Mata Atlântica, a extinção das onças e a matança indiscriminada de preás, pebas e outros bichos da fauna nordestina, ou a aniquilação da Floresta Amazônica ao ritmo alucinante equivalentes a vários campos de futebol por dia, ou o degelo das calotas polares pela ação das chaminés de indústrias do mundo desenvolvido, ou ainda o lixão do tamanho da Austrália que está se formando no meio do Oceano Pacífico, cuja a toxidade está mudando o ecossistema e até alterando o DNA de algumas espécies marinhas causando sofrimentos indescritíveis para milhares de animais e a aniquilação da flora marinha daquela parte do globo, ou mais, o lixão espacial que está se formando acima da estratosfera, constituído de milhares de restos de satélites, e sobras dos programas espaciais das grandes potências, que agora está se despedaçando e batendo uns nos outros, que segundo a NASA pode cair nas cabeças da gente numa verdadeira chuva de lixo?

A resposta é tudo e nada ao mesmo tempo. Pois o problema é muito maior e mais complexo que se pode imaginar. A questão ecológica prescinde de fronteiras, não conhece procedência, nem nacionalidades, é grave, é urgente e, infelizmente, não tem resposta simples e imediata de curto prazo, pois a culpa é exclusivamente nossa. Nós, Homo Sapiens, é que somos os responsáveis únicos por este estado de coisa. Por mais consciência ambiental que procuremos ter.

Tome-se, por exemplo, as algarobeiras tombadas de Acari. Elas não foram ao chão gratuitamente, elas foram para servir de lenha, seja para alguma padaria ou para alguma cerâmica. E aí? Vamos parar de comer pão, ou cobrir as nossas casas com telha por causa disto? Certamente que não. Isto significa que nós, todos nós, somos co-participes e cúmplices da matança do Planeta Terra que perpetramos todos os dias, e muito dificilmente esta mesma raça humana abrirá mão das comodidades modernas em prol da sobrevivência de algumas espécies animais ou vegetais. E temos que ser francos, por mais que doa, a tendência é só piorar.

A reciclagem e a idéia de conscientização ecológia são boas, necessárias, bem-vindas e mais que aceitáveis e dignas do apoio de cada pessoa consciente deste planeta. Mas agora, diante do estágio atual de degradação ambiental não é capaz de reverter o estrago já feito, e no máximo o que pode fazer é só retardar o inevitável, o mundo está próximo do colapso dos recursos naturais.


O que conforta e consola é o fato de que a Terra, segundo a Hipótese Gaia, é um “ser” que existe há milhões de anos, já existia bem antes de aparecermos como espécie, e com certeza ainda existirá por alguns bons bocados de anos depois que o último ser humano perecer. E quando isto acontecer, só restará a lembrança e o arrependimento por não termos cuidado bem da “casa planetária” que Deus entregou para nós, raça humana, sobrevivermos, e quando isto acontecer, será tarde demais... ... ...