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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Santana dos Usurpadores (2ª Parte)

Roma, Século II antes de Cristo, a colheita da uva sempre foi uma das mais esperadas, e desejadas, pois com a uva se produzia o vinho e com ele toda a alegria, que pode vir, da sensação de embriaguez. Com o vinho afogavam-se as mágoas e curtiam-se as coisas boas da vida. E como em toda colheita, isto nada mais era do que a celebração da vida, pois da terra árida, pedregosa e mediterrânea da Península Itálica, vinha algo tão doce e bom como a uva, e da uva se originava a bebida mais maravilhosa que até então existia, o vinho. E para celebrar esse evento tão único nada melhor do uma festa, e os romanos organizavam grandes celebrações para Baco, o deus do Vinho, com muita comida e bebida, e todo mundo se embriagava a vontade (com vinho, lógico), e o sexo corria solto (nada melhor do que sexo para se celebrar a vida), e verdadeiras orgias se davam nas praças e coliseus bem como no interior das casas e palácios, tanto que até hoje o termo “Bacanal” (literalmente “festa de Baco”) virou sinônimo de sexo grupal.

Currais Novos, Brasil, Século XXI, Festa de Santana 2009, se teve de tudo, comida e bebida a vontade, turistas, gente vindo de todo lugar, pobres e coitados artistas esquecidos, e desempregados, resgatados do ostracismo em nome de uma mera e questionável economia de cachê, casais ficando, casais transando pelos cantos, gente embriagada, gente drogada, garrafada na cabeça, uma morte, brigas, cabra safado vindo da capital só pra se dar bem com as meninas do interior (e conseguindo), gente arrumando confusão (e conseguindo), bêbado vomitando e urinando nas calçadas, roubo e furto, a banda Inalla levando gente pra o palco simulando o coito, dançarinos seminus, safadeza, prostituição e velhinhos boquiabertos e velhinhas simplesmente chocadas. Saldo: uma festa como outra qualquer.

Cadê o sentido litúrgico que deveria permear uma festa para uma santa, cadê os valores cristãos que deveriam está presentes numa comemoração e celebração essencialmente que é uma festa cristã? Perderam-se na renda do leilão e na venda de senhas para as festas?

Tem que se ter uma definição de uma vez por todas, ou a festa é religiosa, com a exaltação do sentido espiritual, ou a festa é profana, que nem uma micareta da vida, esquecendo-se de vez o caráter transcendente e elevado que se deveria ter. O que não dá pé é misturar as duas coisas, como água e óleo, e achar que é normal.

Entenda-se que aqui não me ponho a criticar especificamente esta festa ou esta padroeira, pois aqui apenas tomei como exemplo. Critico sim, e com veemência, toda e qualquer festa que se diz ter um lado religioso e um lado profano, e se dizer isso na maior cara lisa de pau, como se fosse a coisa mais natural do mundo, ou pior, com o único fim de arrecadar dinheiro para o que quer que seja. A festa deve ser ou uma coisa ou outra, ou então, vamos deixar a hipocrisia de lado e voltarmos aos velhos tempos das bacanais romanas.

Como me lembro uma vez, há alguns anos atrás, em que fui à cidade de Frei Martinho, na Paraíba, para uma festa de Nossa Senhora da Guia, quando o palco ficou instalado bem na frente da igrejinha e o cantor da banda de forró qualquer começou o show cantando a todo pulmão “chegou o Chico Rola na casa de Zé Priquito”.

E quem não gostou do que eu disse que vá reclamar com o Bispo.