O ano era 1989. O último do
governo Sarney. Outra era, outro século, outros tempos, o Brasil era outro,
olhando sob o prisma atual, parecia até outro país. Aliás, o mundo era outro
também, havia ainda a polaridade entre a Rússia Soviética e os Estados Unidos
da América (muito embora estivesse nos seus estertores, pois o presidente
americano George Bush já anunciava e cantava a vitória na Guerra fria).
Nas ruas Monzas, Escorts e
Chevettes ganhavam a companhia do BR-800, da Gurgel, o primeiro carro 100% brasileiro
que era uma promessa de uma carro popular absolutamente nacional. Na televisão
os programas abusavam do nu frontal, saudando o fim da censura; nas rádios
imperava o “fricote” de Luis Caldas; e ainda se viajava pela Vasp e Transbrasil;
havia Embrafilme, estatais; inflação com três dígitos e uma recessão severa.
Chegou até a ter saques e depredação nas ruas e nas frentes de emergência, o
povo sofrido se revoltava e ainda era “suavemente” reprimido.
Como disse, o Brasil era outro, e
já se vão mais de 20 anos, mas eu me lembro bem daquele ano de inverno bom e de
boas chuvas, pelo menos na minha Paraíba natal. Eu ainda estava extasiado
ouvindo o ótimo LP (CD era coisa rara naquele tempo) de estreia de Marisa Monte,
enquanto se respirava esperança: o país ia votar para presidente!
Me lembro de um programa do
Fausto Silva, que também estreara naquele ano, um certo cantor de rock
brasileiro, Lobão, falar no intervalo de uma música e outra em sua
apresentação: “vamo’ votar na esquerda, em Roberto Freire, em Lula, temo’ que
mudar isso tudo aí...” (sic). Me lembro de um constrangido Faustão correr e
chamar os comerciais imediatamente, afinal, e emissora Globo apoiava um
candidato, o Collor; além disto era proibida a propaganda fora do horário
específico, pelo menos naquele momento.
Lula não ganhou aquele ano e as
consequências desta história todos sabem. Coincidência ou não de 1989 pra cá, a
carreira de Lobão desceu ladeira abaixo, lançou mais alguns discos, sem muito
sucesso, abriu uma gravadora que durou pouco tempo, enveredou pelo samba (nem
ele gostou da experiência), acabou apresentando programa na falecida MTV.
Melhor do que ninguém, Lobão
sentiu na pele o peso de contrariar os interesses da grande mídia e o que ela
representa, dentro do seu quintal. Hoje Lobão vocifera contra o governo,
incorpora a opinião e a posição do que a elite brasileira pensa, e como prêmio
ganha uma coluna na Veja (que prêmio! Principalmente para um artista
desempregado...).
Lobão, e outros de sua geração
incorpora bem o que se convencionou chamar de neo-reaças, gente que antes
juravam ser progressista, “pra-frente”, avançada e hoje pensa exatamente como
os pais (parafraseando aquela música de Belchior). Das duas uma, ou a geração
do rock brasileiro envelheceu e suas mentes envelheceram, ou o “modernismo”
dela era só moda, e hoje, a moda é ser reacionário, e querer de volta uma velha
ordem a que eles mesmo se rebelaram antes.
Mas o que mais incomoda não é
exatamente isso, é a falta de proposta. Se você diz que o que está ai estar
errado, espera-se, no mínimo que você tenha uma ideia melhor para implementar e
que esteja bem guardada dentro da manga; não é isto? Mas pior é que nem isso se
tem. Semana passada vi na TV um repórter perguntar a Lobão, se o PT não presta,
qual é a sua posição pra uma renovação? Resposta de Lobão: “...minha proposta é
vão tomar no c....” isso é o que pensam os “neo-reaça”, e proposta para um
futuro que é bom....nada...