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terça-feira, 25 de maio de 2010

Deixa Estar

No último dia 08 de maio de 2010, comemoraram-se os 40 anos de lançamento de “Let it be” o último disco (ou álbum, como preferem alguns) dos Beatles. Sei que não é comum se estar comemorando um lançamento de uma obra de arte, muito menos um disco de um conjunto musical, mas há de se convir, que Beatles não é exatamente só um grupo de sujeitos que toca música, ou uma simples banda de rock, e muito menos ainda “Let it be” não é um disco qualquer.
Costumo ouvir Beatles com a mesma reverência com que escuto Bach ou Beethoven, para mim eles estão no mesmo patamar eterno que se confere à música clássica. Aqui caberia uma breve definição do que seria música clássica, pois seria aquele tipo de música que jamais se deixa de ouvir, aquela música que está no imaginário e no inconsciente coletivo de todo o mundo, aquela que se ao se assoviar, qualquer um pode identificar, mesmo que não a conheça inteiramente. Música clássica, não é aquele som de violino chato, música clássica é música eterna, seja ela uma guitarra elétrica ou um oboé.
Beatles, Bach e Beethoven conseguem estender suas melodias pelo tempo/espaço. Até hoje, em pleno século XXI, os acordes iniciais do primeiro da 5ª Sinfonia de Beethoven é associado a suspense. “Jesus, alegria dos Homens” de Bach é padrão de música sacra. E Beatles mesmo sendo bem mais recente são candidatos certos a música eterna, pois quem nesse Planeta Terra não sabe solfejar uma cançãozinha sequer do FabFour. Uma das primeiras músicas que meu moleque de 13 anos cantou na vida foi “Ticket to Ride”, e isso sem qualquer intervenção minha.
Não é todo dia que a gente ver um clássico nascendo, muito menos ainda não é qualquer dia que se ver o ocaso de clássico ou a sua entrada perene nas brumas da eternidade. Como não tive a chance de estar na Viena do Século XIX e ver um Beethoven surdo regendo intuitivamente, e entre lágrimas, sua “Nona”, me resta o Século XX com os quatro caras de Liverpool.
“Let it be” é um disco melancólico, não uma melancolia explícita, e sim uma subliminar, se tem a todo o momento, da primeira a última música a sensação de adeus. A capa escura, mostra fotos de John, Paul, George e Ringo envelhecidos, meio cansados.
“Let it be” fechou uma década, uma década revolucionária que ajudou a humanidade a libertar-se do passado opressor e abrir as portas (da percepção) para um futuro cheio de possibilidades, ou como diria Lulu Santos, com a “habilidade pra dizer mais sim do que não...”. Os anos 1960, dos movimentos libertários, das ditaduras sangrentas e guerrilhas sonhadoras, de Paris e de Praga, da Tropicália e de Woodstock, das revoluções possíveis e das utopias alcançáveis, tudo isso ao som dos Beatles.
Os Beatles e os anos 1960 mudaram o mundo e ambos foram fechados com chave de ouro por “Let it be”, melancolicamente, contudo, inexoravelmente.