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terça-feira, 11 de maio de 2010

...inquietação...

Eu também escrevo sobre o que me incomoda, pois o que me irrita, o que me aborrece, também geralmente me inspira. Mesmo que desagrade a muitos e agrade a poucos, mesmo que ninguém leia, mesmo que estas palavras se percam no tempo e sirvam para enrolar o peixe na feira, ou ainda vá para o lixo ou sirva de proteção para o chão nas pinturas de imóveis. Mesmo que me cassem a palavra ou me tirem a tribuna, tão logo encontraria novas palavras ou uma nova tribuna para exorcizar a indignação nossa de cada dia.
Existe algo que me incomoda profundamente, e creio que não só a mim, mas a boa parte da humanidade também: a morte. Não a morte em si, mas tudo que nefastamente gira em torno dela, e, sobretudo suas causas e conseqüências.
Há alguns dias perdemos uma grande pessoa, uma grande mulher, em todos os sentidos, Tânia Maria Dantas Alves, a quem tive a sorte de conhecer. Sim, sorte, pois conhecer uma personalidade forte e ativa como a de Tânia é uma fortuna. Ela era uma mulher íntegra, mas extremamente brincalhona, alegre, contagiava a todos com sua espiritualidade e espontaneidade. Uma mulher linda, por dentro e por fora. Lamento profundamente não só sua partida, mas, sobretudo lamento não ter tido mais tempo para partilhar de sua amizade.
Tânia padeceu de um terrível carcinoma a que ela bravamente lutou por quase três anos, e pasmem, boa parte do seu tratamento foi custeado por ela própria. Isto é absurdo, inquietante e indignante. Como é que se permite que uma pessoa tire do seu bolso ou contraia dívidas para poder cuidar da própria saúde? Já não bastam o terrível desgaste e o impacto emocional de ter uma doença como esta, ainda ter que se preocupar em arcar com os custos do seu tratamento?
Temos que nos indignar e com razão, e mais que isso, por em nossas cabeças de forma definitiva que é obrigação do Estado prover saúde e tratamento médico de qualidade para todos os seus cidadãos de forma indistinta e para/contra toda e qualquer doença, inclusive carcinomas, sem que estes mesmos cidadãos tenham que tirar um único centavo do bolso. Temos que por em mente que o Estado (digo: município, estado-membro, União) existe, dentre outras coisas, e principalmente, para isto, e temos que berrar, gritar e exigir isto, sem concessões.
É absurdo, mas temos que exigir que o Estado cumpra com sua obrigação, nada mais nada menos, enquanto esse mesmo Estado nos enche de obrigações de impostos, essa equação definitivamente não é justa.
O que nos conforta, por assim dizer, é que pessoas queridas, honradas e dignas como Tânia jamais morrem, muito pelo contrário, estão e estarão sempre presentes, seja nos corações daqueles que, mesmo minimamente, tiveram a oportunidade de se encontrar com ela, como também na presença de seu forte espírito zelando pelos destinos do seu amado filhinho Gustavo.
E se a morte em si não é nada, sendo só um breve interregno para uma existência muito maior; não devemos dar adeus à Tânia, e sim um até-logo.
Até mais, Taninha, a gente se vê por aí...