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sábado, 4 de janeiro de 2014

QUATRO GAROTOS DE LIVRAMENTO (primeira parte/ ou “um resumo do que virá”)


Há muito tempo, na cidade de Livramento, interior do estado da Paraíba, quatro cabras jovens se reuniram pra fazer música. Eles tinham acabado de concluir o científico (atual ensino médio), estavam desempregados, não tinham o que fazer, não queriam, nem podiam viver ainda sob os auspícios de suas empobrecidas famílias, não tinham habilidade específica pra nenhum trabalho, a não ser ses dons naturais para a música. Em casa ouviam muito Luiz Gonzaga, o rei do baião, além de grupos como Os Três do Nordeste e um pouco de Jackson do Pandeiros.

Como eu disse, eles eram quatro: João Lemos, no triângulo, Paulo Macário no acordeon, Jorge Henrique no violão, e Ricardo Siqueira no zabumba. João era o mais inteligente de todos, politizado, culto, dono de um humor mordaz, não deixava de puxar um briga se considerasse que algo estava errado; Paulo fazia o tipo romântico, a maioria das músicas do grupo era de autoria dele, e as letras eram extremamente “açucaradas” cheias de metáforas de amor; Jorge era um músico excepcional, mas era metido a místico, dizem que de vez em quando ele tinha umas visagens da Jurema Sagrada; Ricardo era o tipico cara gente boa, o amigo de todo mundo, se dava ( e ainda se dar) bem com qualquer pessoa, ele era descendente de ciganos e adorava usar aneis em todos os dedos e um pesado colar com uma grande estrela de Davi dependurada, por isso deram a ele o apelido de Anelo Estrela.

Todos os finais de semana eles tocavam à no sítio Taverna, até que um dia um locutor de uma FM de Recife os viu tocar e os convidou para ir à capital pernambucana para se apresentar.

Vixe. Eles toparam na hora, e fizeram bem, foi sucesso imediato, todo mundo gostava do forrozinho pé-de-serra que eles apresentaram e mais com as letras românticas de Paulo caíram bem nos gostos de todos, do universitário ao analfabeto, do brega ao clássico, da elite ao povão. Todos, absolutamente todos, gostavam do som dos Bisouros ( sim, esse era o nome do grupo) isso porque eles costumavam ensaiar no pátio da quadra poliesportiva lá de Livramento, até que um dia um enxame os atacou e assim eles ficaram conhecidos como os “menino que levaro uma carreira dos bisouro” e assim ficou.

Em Recife eles gravaram um CD que, que mesmo com toda pirataria e 'downloads' ilegais pela net, vendeu feito água. Mal a bolacha prateada de plástico chegava às lojas, esgotava. E a agenda de shows estava mais que lotada. Tinha apresentação em todo o Nordeste, chegou ao ponto de ser marcado duas apresentações no mesmo horário mas em cidades diferentes (e como se resolvia isto?), numa das cidades se montava um telão e nele passava as imagens do DVD dos Bisouros do Forró, e a galera nem se importava e ia do mesmo jeito.

Eles foram pra São Paulo, fizeram aparições em todos os programas de TV, audiência GARANTIDA. E finalmente os Bisouros conquistaram o Sul e o Sudeste com o forró. Paulistas, gaúchos e sulistas em geral esqueceram suas tradições, seus fandangos e vanerões e aderiram com tudo ao velho e bom pé de serra.
Mas a verdade é que o bom, nem sempre dura e se dura, exige muito de quem o cria, e com os Bisouros não suportaram o peso do sucesso e os egos inflados dos competentes, tudo, enfim, contribuiu para aumentar a tensão entre os componentes. Eles disseram que não iam mais fazer shows, iam só gravar Cds. Os fãs ficaram decepcionados, mas mesmo assim a legião só aumentava.

Até que num belo dia, as pressões sobre os meninos, a demanda por mais e mais coisas novas, o cansaço das relações interpessoais e artísticas desgastadas entre os componentes do grupo foi forte demais e eles acabaram o grupo.

João se mudou para São Paulo, casou com uma nissei do Bairro da Liberdade, e acabou assassinado em circunstâncias estranhíssimas. Paulo continuou com carreira solo, cantando as músicas consagradas dos Bisouros e alguns canções novas, era a melhor maneira dos fãs que não tiveram o previlégio de ver os quatro reunidos, ouvir pelo menos na voz de ao menos um dos integrantes. Jorge continuou com suas vezes de místico, tocava violão durante cultos do Santo Daime, até que foi acometido de um linfoma e faleceu numa cidadezinha do interior de Minas Gerais próximo ao Céu (como é assim chamadas as 'Igrejas' do Santo Daime) que ele frequentava, e acabou indo pra o Céu (paraíso) de verdade. Anelo voltou pra Livramento, abriu um Lan House e está feliz da vida até hoje continuando sendo amigo de todo mundo.

A história dos Bisouros do Forró só mostra duas coisas. Primeira: se você quiser ser eternizado, largue o que você está fazendo, quando estiver no auge (Pelé fez isso muito bem, já Ronaldo, não). Segunda: não adianta cobrar novos clássicos de quem já fez coisas boas demais.