Há uns
dois ou três anos, mais ou menos na época do Natal chegou na cidade
um enorme caminhão, como que querendo se fazer como um presente. Na
sua lateral estava escrito: “Cinema Mágico, levando cinema para as
comunidades remotas do país” (sic). Era patrocinado por uma
gigantesca multinacional de produtos de higiene ( e seu indefectível
sabonete Antibacteriano).
Até ai,
tudo bem, apesar dos pesares, a empresa deve ter 'pensado': “uma
cidade com o nome de Currais Novos deve ser um rincão atrasado do
país e seus pobres habitantes nunca viram cinema antes”. Mesmo
isso sendo extremamente ofensivo aos briosos e orgulhosos habitantes
locais, essa se deixa passar, afinal, neste particular tenha uma
certa boa intenção por partes deles (muito embora o inferno esteja
cheio de boas intenções).
Mas o que
me deixou irado, possesso de raiva, naquele momento, foi ver escrito
na lateral do caminhão a frase “projeto apoiado pelo Ministério
da Cultura”, com certeza tinha verba federal ali, cofinanciado uma
propaganda subliminar de uma grande multinacional, sob o pretexto de
ajudar a cultura (como todos sabem, cinema é cultura, óbvio), isso
seria até justificável, também, se não fosse o filme que eles iam
passar: Cinema Mágico DISNEY! Era dinheiro meu, seu, dado de mãos
beijadas a uma multinacional de produtos de higiene para comprar
filme de outra multinacional do entretenimento, e nem uma, nem a
outra, precisavam desse dinheiro, era lucro líquido e certo pra
eles. O que revolta, ainda mais, é saber que no Brasil existem
excelentes produções de desenhos animados que precisam de apoio e
verba em dinheiro para progredir, e ESTAS VERBAS estavam sendo dadas
de graça ao estrangeiro.
O que me
fez remoer esse mágoa in-apercebido do passado? A súbita constatação
de que o Brasil e nós brasileiros fomos e somos fadados a ser um
país periférico pelo resto da existência. Jamais seremos um grande
“player” nos tabuleiros internacionais. E particularmente me doí
constatar isso, principalmente sabendo-se do imenso amor que tenho
por esta nação. E nem se empolguem os reaças e neo-reaças de
plantão, não mudei minha opinião política, continuo de esquerda
(perigoso dizer isto quando fantasmas de golpe de estado rondam por
ai), e continuo apoiando o governo e ainda considerando-o o melhor
que essa terra já teve. Mas mesmo com tudo isso, parece que a senda
do fracasso pavimenta o caminho que trilha o Brasil.
Para ser
potência, tem que pensar alto, ser calculista, frio, direto,
ambicioso custe o que custar, o Brasil não é assim, aqui é tudo
mole, frouxo, prefere soltar grama pra coisas reconhecidas, do que
avaliar, até possíveis riscos em empreendimentos mais ousados e
porque não até inéditos, mas essencialmente nacionais.
Outro
exemplo claro, foi a recente escolha do novo avião de caça da FAB,
optou-se pelo modelo mais barato, o Gripen NG (sueco) ao invés de
ter pego o modelo mais avançado tecnologicamente o Rafale (francês).
Os militares tem visão curta, ou querem ter visão curta, pois quem
tem o Pré-Sal e a Floresta Amazônica, deve ser saber que enche de
olho gordo por parte dos Estados Unidos da América, e botar, num
eventual e hipotético conflito entre as nações, os avançadíssimos
F-35 americanos dão uma surra de cambão nos “pé-de-burro”
Gripen NG (aviõeszinhos mais baratos).
O
empresariado brasileiro não tem ambição, qualquer empresa
brasileira que chega a crescer um pouquinho, logo é vendida para
corporações internacionais. Vários países do mesmo porte e PIB do Brasil tem inúmeras empresas multinacionais, basta o exemplo da
Coreia do Sul, país menor, com riquezas menores tem a Samsung, LG,
Daewoo, Hyundai, até a Indonésia e a África do Sul tem empresas
multinacionais, já a única empresa multinacional brasileira com
êxito no exterior é a Igreja Universal do Reino de Deus...
A
Petrobras era a maior petroleira na Bolívia e em Angola, foi
destituída desses países, nacionalizada no primeiro e absorvida no
segundo, sem a menor cerimônia e não se fez nada para evitar ou
mesmo minimizar o prejuízo.
A elite
brasileira é preguiçosa, colonizada e corrupta; a classe média é
manipulada e perdida; e o povo já sofre demais para se querer lhe
colocar qualquer responsabilidade a mais pela falta de êxito do
país.
Como eu
disse antes, os fantasmas de um golpe de estado já rondam por ai,
vários protestos e manifestações “espontâneas” já foram
marcados para meados do ano, durante a Copa, com objeto único e
precípuo de destabilizar a ordem democrática. E quem está louco
para tomar o Planalto de assalto é justamente essa gente pequena,
fraca, que prefere babar os ovos dos europeus (mesmo em crise) e dos
americanos e que detesta a terra brasileira tal qual Carlota
Joaquina. Gente (se é que se pode chamar isso de Gente) que não
hesita em queimar, literalmente e de público, a bandeira nacional, e
pichar e destruir um Monumento a Zumbi dos Palmares em nome de uma
“diarréica” liberdade que não existe. Esse gente criou e cria o
caminho que leva o país ao fracasso.