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sábado, 22 de outubro de 2011

ostracismo e ferro

Quem já assistiu o filme “O Império dos Sentidos”? A película conta a história de uma relação obsessiva de um casal no Japão da década de 1930. A produção de 1976, dirigida por Nagisa Oshima, era carregada em tintas eróticas, sendo classificada até como pornográfica. O casal central da trama era protagonizado por Tatsuya Fuji o homem e Eiko Matsuda, a mulher. Ambos jovens atores dramáticos vindos do teatro japonês. Ao fim da produção, Tatsuya Fuji foi aclamado como autor recebeu convites e mais convites para estrelar produções sérias, digo, menos pornográficas, ficou famoso e conhecido. Já Eiko Matsuda caiu num esquecimento de dar dó, ninguém sabe como ela está, aonde ela estar, ou mesmo se estar viva, até no Google não se acha nenhuma informação aproveitável dela.

Poucos sabem, mas Sylvester Stallone, um dos ícones da truculência americana, começou a carreira como ator pornográfico, nos anos 1960, quando era conhecido como garanhão; nos anos 1970 virou Rocky, depois Rambo, depois virou ator “sério”, ou seja, ninguém lembra do seu passado pornô. Já Traci Lords, símbolo máximo da indústria pornográfica dos anos 1980, tentou e tenta há anos entrar no ramo do cinema sério, mas tudo o que ela conseguiu foram papeis secundários em filmes “B”.

Mais uma vez, vemos aqui, exemplos máximos da injustiça machista que impera no mundo, homem pode sair do mundo pornográfico e ir para o entretenimento dito sério, já a mulher não, está sempre fadada a ser sempre representada com a pecha lupanária, e não ir muito além disso...

Mas Aristobulo, você foi buscar os exemplos justamente no Japão e nos Estados Unidos...dois dos países mais socialmente opressores, retrógrados, reacionários, conservadores, misóginos e machistas do mundo, aí não vale...Digo, vale sim, pois mesmo na vanguardista Europa se tem exemplo desse chauvinismo cultural. No filme “O Último Tango em Paris” de 1972, dirigido por Bernardo Bertolucci, que não era propriamente um filme pornô, mas era bem carregado nas tintas eróticas, fez reerguer a então decadente carreira de Marlon Brando, já a estrela Maria Schneider , com quem Brando fez par nas cenas ‘calientes’, nunca mais conseguiu fazer nada no cinema e morreu pobre, com mal de Alzheimer e esquecida, em fevereiro desse ano, e pior, partiu para posteridade como “aquela atriz que fez O Ultimo Tango...” ou seja até o nome dela esqueceram.

Mas que maldição é essa? Homens podem sair do mundo pornográfico com a cara limpa e a mulher não?

Que estigma é esse que paira sobe qualquer fêmea que adentra no lamaçal da indústria do entretenimento adulto, mais conhecido como indústria pornográfica? Para o homem pode ser uma via de mão dupla, pode-se ir e voltar, mas e para a mulher, será sempre uma rua de mão única, quem entra não sai e se sai não progride, estigmatiza-se.

E no nosso Brasil varonil? Nós brasileiros somos tidos, e de fato somos, mais abertos quanto a sexualidade, mas será que o telespectador brasileiro ou o espectador de cinema veria uma Vivi Fernandez, uma Anne Midori ou uma Mônica Mattos estrelando uma novela da Globo ou da Record? Será que elas fariam sucesso, ou será que elas nem sequer passariam da porta da recepção da emissora dos Marinho cariocas ou a dos bispos da Universal?

Uma coisa é certa, uma nuvem negra de preconceito paira sob a cabeça de todas as trabalhadoras da indústria pornográfica, para os homens não, para o homem é virtude expor virilidade diante das câmeras, para as mulheres é ostracismo e ferro! E só...

E aí, caro leitor? Olhando friamente pra esta situação, consegue achar que isto tudo é justo?

O mundo só será verdadeiramente justo quando houver, um dia, igualdade plena entre o homem e a mulher, inclusive neste sentido.