Ah…..o Facebook, a Caixa de Pandora moderna, a fruta deglutida e
cuspida da Árvore do Conhecimento no Éden, a vitrine da
bestialidade humana….tanta coisa ruim assim numa rede social, pois
sim, uma vez sob a capa singela de rede social, frustrados e
psicopatas escondidos em teclados ou telas de touchscreen mostram
suas garras, pontas de lança de DeepWeb,
o que há de mais macabro na “inteligência” humana.
O Facebook se tornou uma das maiores
fontes de informação, desbancando os Blogs e Sites de notícia, que
antes desbancara a imprensa tradicional “escrita, falada e
televisionada”, nisto constituiria a democratização da
informação, tanto no acesso, como na feitura, por outro lado virou
um caldeirão de fakenews
e factoides.
Mas se é tão rum assim, ainda se
tem boias de salvação, pérolas antes restrita a poucos, joias que
jaziam em arquivos mofados analógicos e digitais, coisas que não se
podia ver antes, pois pertenciam a grandes corporações mediáticas,
e agora, como quase tudo na Internet, podem ser acessadas
franqueadamente, como a
reprodução daquele maravilhoso quadro de Pablo Picasso, o trailer
perdido de um filme soviético, a foto das ruas limpas de Talin, ou
aquele incrível e maravilhoso dueto de Tom Jones e Janis Joplin,
artes plásticas de Botsuana, música regional da Sérvia, aquele
documentário sobre David Bowie, a beleza vintage de Lilian Gish,
assistir a uma performance de “Baal” de Bertolt Brecht, as fotos
históricas de Cazuza ao lado de Supla e Nelson Motta, ou mesmo Marc
Bolan, Elton John e Rod Stewart no mesmo cenário, os clips perdidos
da eterna Elis Regina, os poemas de Chico Buarque e Lou Reed, ou
mesmo
o sucesso quase
viral
pop do
“ateu satanista” tomando um sorvete
em
Portugal. Dependendo dos
grupos a que se estiver inscrito,
o Facebook pode desfilar na
sua linha do tempo uma espécie
de televisão interativa
selecionada sob o seu pleno controle.
O Facebook
foi o responsável pela morte da minha esperança no processo
jurídico-político-civilizatório, ou o resto que sobrou dele para
mim. Uma postagem, não importando o grupo, autor , ou mesmo o
conteúdo, detonando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
dentre outras tantas, esta,
em específico, pela sua virulência e de ir de onde veio, me passou
a maior contundência. Como se comprazer com a detenção alheia,
quando a sentença condenatória é EVIDENTEMENTE parcial? Como se
comprazer com o cárcere alheio, quando a causa da prisão é somente
antipatia e preconceito, nada de prova, nada de culpa?
Junto com a morte
da minha esperança no processo jurídico-político-civilizatório,
sobreveio um estado de coma
do meu amor pela brasilidade, que tendia a ser um como permanente
sobrevindo da morte, e eu engrossaria o coro de tantos e tantos
brasileiros com complexo de viralatas, e dizer ‘O BRASIL NÃO TEM
MAIS JEITO’, o mundo não teria mais jeito, afinal quem aceita uma
justiça injusta como justa?
….quem aceita uma justiça injusta como justa? Que indagação mais
infantil! Eu estava quase aceitando isto como fato consumado, uma dor
forte no processo de amadurecimento.
Luiz Inácio Lula da Silva não está preso por corrupção, não
está preso pelo triplex no Guarujá, nem pelo sítio em Atibaia, ele
está preso por que é nordestino, já foi pobre, tem a língua
presa, é feio, etc., ele está preso nem por coluio com
Construtoras, mas pelos programas sociais, ele está preso não por
desfalque ou desvio na Petrobras, mas sim pela subida social de gente
humilde, emergentes viajando de avião, comprando casa e carro, e
sobretudo ele está preso por ousar falar pelo Brasil em pé de
igualdade com os grandes lideres mundiais, justamente ele, um outrora
um “lascado na vida”. A prisão de Lula é unicamente por razões
ELITISTAS….e não dá pra uma pessoa com mínimo senso de justiça
(….e eu procuro ser uma pessoa assim) aceitar isso como normal.
Daí vem o fantasma da princesa Carlota Joaquina (aquela que disse
que dessa maldita terra brasileira não levaria nem o pó) me
cochichar ao ouvido: “….essas merdas só acontecem no Brasil”
ou o mais grave de tudo “o Brasil não tem mais jeito, nunca teve”,
ou pior “….deixa essa merda se explodir, não tem conserto….”
Eis que, passeando pelos canais da
TV, dei de cara com um documentário sobre a vida de
Ayrton Senna, e ver as imagens daquele homem, naqueles anos
1990/1980, empunhando orgulhosamente a bandeira brasileira, me deu
uma sobrevida ao meu orgulho da brasilidade, suficiente para tirá-la
do coma, o Brasil é grande, muito maior que as sandices de Jair
Bolsonaro, a ambição mercadológica de Paulo Guedes, os
devaneios aritméticos de Abraham Weintraub, o viralatismo
diplomático de Ernesto Araujo, os
espasmos esquizofrênicos de Damares Alves, muito, muito, muito maior
que a parcialidade, a
ambição mal disfarçada de Hamilton Mourão, o cinismo
seboso traidor
e maucaratismo de um sujeito
asqueroso como é o tal
sérgio moro e sua
pupila Gabriela
Hardt, o
fedor intrínseco de Thompson Flores, João Pedro Gebran Neto,
Leandro Paulsen, ou Vitor Luiz dos Santos Laus, a boçalidade de
Gilmar Mendes, ou Dias Toffoli, ou
Luiz Fux, a ingratidão de
Joaquim Barbosa, ou Carmen Lúcia, as
astrologias escatológicas de
Olavo de Carvalho, a pseudo-integridade de Deltan Dallagnol, o falso
moralismo dos patos da FIESP, e as dancinhas ridículas de gente
besta e
abobalhada
com camisa da CBF, maior que todos os protagonismos dessa crise,
resultante do Golpe institucional que derrubou Dilma Rousseff, e
trouxe o caos e o proto fascismo à nossa terra, maior
que os irmãos Bolsonaro, ou os irmãos Marinho.
O Brasil é maior que sua
elite mesquinha (...e ranzinza, como dizia Darcy Ribeiro), é maior
que seu empresariado, ora megalomano, ora preguiçoso, representando
num
Luciano Hang ou Joesley Batista, ou Eike Batista, ou
Flávio Rocha, ou Leo
Pinheiro ou Marcelo Odebrecht. O
Brasil é maior até mesmo que Lula, é maior João Amoedo, Henrique
Meirelles, Guilherme Boulos,
Ciro Gomes ou Fernando
Haddad, é maior que Onyx
Lorenzoni ou Romero Jucá, é maior que Marcia Tiburi ou Jean Wyllys,
é muito
maior do
que eu ou você, o Brasil é
a maior nação do mundo!
Como aquelas velhas imagens desbotas
de arquivos mostrando Senna balançando a bandeira nacional em
Interlagos me trouxe tanta veemência nesta assertiva? Ver
Ayrton Senna entregar-se tão obstinadamente no seu mister,
destacar-se tão veementemente entre tantos outros poucos terráqueos
a enveredar no estranho esporte da Formula 1 (….numa época em que
a relação homem/máquina era mais intensa, mais efusiva e até mais
efetiva, com certeza menos política e gananciosa, como também sem
graça, como é hoje), é de encher de júbilo … principalmente no
desenvolver do referido documentário, contrapondo os sofrimentos da
população brasileira mais pobre naquela época, ao fato de um
brasileiro empunhar a bandeira verde e amarela nossa no esporte mais
capitalista do mundo, resgatando assim um pouco, um pouquinho, da
combalida auto-estima tupiniquim.
Já
fui apreciador da Formula 1 (...não sou mais…) e boa parte das
cenas mostradas no documentário, incluindo a do acidente que vitimou
Ayrton, eu assisti ao vivo. Mas naquela época eu não dei a dimensão
nacionalista que percebi hoje em 2019. Foi preciso, vinte e tantos
anos, dois governos neoliberais, privataria, ascensão e queda
(trágica) de um lider popular, um Golpe parlamentar e a ascensão de
um lider fascistóide, vira-lata, ignobil que usurpou o Brasil e o
sonho da integridade na política em milhões de brasileiros, pra
perceber, a dimensão semiótica e simbólica que representou a
imagem de Ayrton Senna, dando a volta final, depois da bandeirada, e
subindo ao pódio com o nosso “pendão da esperança”, nosso
“símbolo augusto da paz”. Perceber, enfim, que o nosso Brasil é
de fato gigante, não só territorialmente, mas essencialmente, pois
é do tamanho do seu povo, taõ bem representado, na
obstinação de um piloto de corrida.
Eu não sou ingênuo em colocar
Ayrton Senna em um Panteão, ou elevá-lo a condição de santo, ou
algo que o valha, talvez poderia inclui-lo como um heroi ou grande
caráter do símbolo nacional, mas não num nível de D. Pedro I, um
Joaquim José da Silva Xavier, um
Juscelino Kubitschek, mas com
certeza acima de um Pelé (bem acima…), ou um
Marechal Deodoro da Fonseca
(outro golpista da História).
Senna era um empregado de
multinacionais, e ganhava muito dinheiro por isso. É de se pensar se
aquele braço de suspensão
do seu carro tivesse caido um
pouco acima, ou um pouco abaixo de sua cabeça, e
se ele tivesse sobrevivido,
se não faria
propaganda institucional para o governo Fernando Henrique Cardoso, ou
pedindo voto para Aécio Neves, ou mesmo ao lado dos artistas
globais, pedindo moralidade (falsa) nos protestos de 2014, afinal,
ele é filho e fruto da fina-flor da elite paulistana. Por outro
lado, sabendo das vultosas quantias que ele destinava para projetos
sociais, culminando no seu
Instituto Ayrton Senna, não seria difícil imaginá-lo, dando aval
ao Fome Zero de Lula, ao lado de Gisele Bündchen, ou fazendo
campanha para Marina Silva, ou Marcelo Freixo, ou
Eduardo Jorge, ou Heloisa Helena.
Meu
filho Rafael Virginio uma fez me perguntou “qual seria a posição
política dos seus pais, meus avós, na conjuntura de hoje”… ...é
difícil conjecturar, jogando o passado no presente, ou num
futuro, afinal o Tempo é uma porra de uma flecha que
irremediavelmente só avança para frente, não volta, não volta de
jeito nenhum, não faz curva, só corta o espaço/tempo pra diante! E
tudo que nos resta são meras, e por vezes estúpidas, conjecturas.
O Brasil e o mundo dos anos 1980 e
1990 eram muito mais fácil de compreender, e até de se viver, tudo
era mais fácil, não se tinha tanta informação, não se tinha
tanto uso ruim da informação, não se tinha deturpação, era
“nós contra eles”, quem era rico ia pra Universidade, comprava
livro e disco, e quem era pobre, era pobre, e só. O mundo não era
tão multifacetado, não era tão interligado, naõ era tão
multipolarisado. É dificil imaginar um Ayrton Senna no Século XXI,
como é tão difícil quanto imaginar também um John Lennon no
Século XXI.
A única coisa que sei é que a imagem de Ayrton Senna que vi foi a
imagem do Brasil. Dramático, extremado, obstinado, único, sem
paralelo com qualquer outra nação, trágico, heroico, caricato,
porém verdadeiro, destemido...sobretudo apaixonado.
Pode vir fascista, socialista, o escambau…. Pode vir
neoliberalismo, privataria…. Pode vir Plano Nacional de
Desenvolvimento, 50 anos em 5….Pode vir dilapidação, depois
construção…. Pode vir favela, casa de taipa, seca, saques,
sertão, pois depois vem a redenção, pois nós brasileiros, somos,
O POVO, e antes dos israelenses, SOMOS O POVO ESCOLHIDO!