Rádio CN Agitos - A rádio sem fronteiras!!!

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Ayrton Senna salvou a brasilidade


Ah…..o Facebook, a Caixa de Pandora moderna, a fruta deglutida e cuspida da Árvore do Conhecimento no Éden, a vitrine da bestialidade humana….tanta coisa ruim assim numa rede social, pois sim, uma vez sob a capa singela de rede social, frustrados e psicopatas escondidos em teclados ou telas de touchscreen mostram suas garras, pontas de lança de DeepWeb, o que há de mais macabro na “inteligência” humana.

O Facebook se tornou uma das maiores fontes de informação, desbancando os Blogs e Sites de notícia, que antes desbancara a imprensa tradicional “escrita, falada e televisionada”, nisto constituiria a democratização da informação, tanto no acesso, como na feitura, por outro lado virou um caldeirão de fakenews e factoides.

Mas se é tão rum assim, ainda se tem boias de salvação, pérolas antes restrita a poucos, joias que jaziam em arquivos mofados analógicos e digitais, coisas que não se podia ver antes, pois pertenciam a grandes corporações mediáticas, e agora, como quase tudo na Internet, podem ser acessadas franqueadamente, como a reprodução daquele maravilhoso quadro de Pablo Picasso, o trailer perdido de um filme soviético, a foto das ruas limpas de Talin, ou aquele incrível e maravilhoso dueto de Tom Jones e Janis Joplin, artes plásticas de Botsuana, música regional da Sérvia, aquele documentário sobre David Bowie, a beleza vintage de Lilian Gish, assistir a uma performance de “Baal” de Bertolt Brecht, as fotos históricas de Cazuza ao lado de Supla e Nelson Motta, ou mesmo Marc Bolan, Elton John e Rod Stewart no mesmo cenário, os clips perdidos da eterna Elis Regina, os poemas de Chico Buarque e Lou Reed, ou mesmo o sucesso quase viral pop do “ateu satanista” tomando um sorvete em Portugal. Dependendo dos grupos a que se estiver inscrito, o Facebook pode desfilar na sua linha do tempo uma espécie de televisão interativa selecionada sob o seu pleno controle.

O Facebook foi o responsável pela morte da minha esperança no processo jurídico-político-civilizatório, ou o resto que sobrou dele para mim. Uma postagem, não importando o grupo, autor , ou mesmo o conteúdo, detonando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dentre outras tantas, esta, em específico, pela sua virulência e de ir de onde veio, me passou a maior contundência. Como se comprazer com a detenção alheia, quando a sentença condenatória é EVIDENTEMENTE parcial? Como se comprazer com o cárcere alheio, quando a causa da prisão é somente antipatia e preconceito, nada de prova, nada de culpa?

Junto com a morte da minha esperança no processo jurídico-político-civilizatório, sobreveio um estado de coma do meu amor pela brasilidade, que tendia a ser um como permanente sobrevindo da morte, e eu engrossaria o coro de tantos e tantos brasileiros com complexo de viralatas, e dizer ‘O BRASIL NÃO TEM MAIS JEITO’, o mundo não teria mais jeito, afinal quem aceita uma justiça injusta como justa?

….quem aceita uma justiça injusta como justa? Que indagação mais infantil! Eu estava quase aceitando isto como fato consumado, uma dor forte no processo de amadurecimento.

Luiz Inácio Lula da Silva não está preso por corrupção, não está preso pelo triplex no Guarujá, nem pelo sítio em Atibaia, ele está preso por que é nordestino, já foi pobre, tem a língua presa, é feio, etc., ele está preso nem por coluio com Construtoras, mas pelos programas sociais, ele está preso não por desfalque ou desvio na Petrobras, mas sim pela subida social de gente humilde, emergentes viajando de avião, comprando casa e carro, e sobretudo ele está preso por ousar falar pelo Brasil em pé de igualdade com os grandes lideres mundiais, justamente ele, um outrora um “lascado na vida”. A prisão de Lula é unicamente por razões ELITISTAS….e não dá pra uma pessoa com mínimo senso de justiça (….e eu procuro ser uma pessoa assim) aceitar isso como normal.

Daí vem o fantasma da princesa Carlota Joaquina (aquela que disse que dessa maldita terra brasileira não levaria nem o pó) me cochichar ao ouvido: “….essas merdas só acontecem no Brasil” ou o mais grave de tudo “o Brasil não tem mais jeito, nunca teve”, ou pior “….deixa essa merda se explodir, não tem conserto….”

Eis que, passeando pelos canais da TV, dei de cara com um documentário sobre a vida de Ayrton Senna, e ver as imagens daquele homem, naqueles anos 1990/1980, empunhando orgulhosamente a bandeira brasileira, me deu uma sobrevida ao meu orgulho da brasilidade, suficiente para tirá-la do coma, o Brasil é grande, muito maior que as sandices de Jair Bolsonaro, a ambição mercadológica de Paulo Guedes, os devaneios aritméticos de Abraham Weintraub, o viralatismo diplomático de Ernesto Araujo, os espasmos esquizofrênicos de Damares Alves, muito, muito, muito maior que a parcialidade, a ambição mal disfarçada de Hamilton Mourão, o cinismo seboso traidor e maucaratismo de um sujeito asqueroso como é o tal sérgio moro e sua pupila Gabriela Hardt, o fedor intrínseco de Thompson Flores, João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen, ou Vitor Luiz dos Santos Laus, a boçalidade de Gilmar Mendes, ou Dias Toffoli, ou Luiz Fux, a ingratidão de Joaquim Barbosa, ou Carmen Lúcia, as astrologias escatológicas de Olavo de Carvalho, a pseudo-integridade de Deltan Dallagnol, o falso moralismo dos patos da FIESP, e as dancinhas ridículas de gente besta e abobalhada com camisa da CBF, maior que todos os protagonismos dessa crise, resultante do Golpe institucional que derrubou Dilma Rousseff, e trouxe o caos e o proto fascismo à nossa terra, maior que os irmãos Bolsonaro, ou os irmãos Marinho. O Brasil é maior que sua elite mesquinha (...e ranzinza, como dizia Darcy Ribeiro), é maior que seu empresariado, ora megalomano, ora preguiçoso, representando num Luciano Hang ou Joesley Batista, ou Eike Batista, ou Flávio Rocha, ou Leo Pinheiro ou Marcelo Odebrecht. O Brasil é maior até mesmo que Lula, é maior João Amoedo, Henrique Meirelles, Guilherme Boulos, Ciro Gomes ou Fernando Haddad, é maior que Onyx Lorenzoni ou Romero Jucá, é maior que Marcia Tiburi ou Jean Wyllys, é muito maior do que eu ou você, o Brasil é a maior nação do mundo!

Como aquelas velhas imagens desbotas de arquivos mostrando Senna balançando a bandeira nacional em Interlagos me trouxe tanta veemência nesta assertiva? Ver Ayrton Senna entregar-se tão obstinadamente no seu mister, destacar-se tão veementemente entre tantos outros poucos terráqueos a enveredar no estranho esporte da Formula 1 (….numa época em que a relação homem/máquina era mais intensa, mais efusiva e até mais efetiva, com certeza menos política e gananciosa, como também sem graça, como é hoje), é de encher de júbilo … principalmente no desenvolver do referido documentário, contrapondo os sofrimentos da população brasileira mais pobre naquela época, ao fato de um brasileiro empunhar a bandeira verde e amarela nossa no esporte mais capitalista do mundo, resgatando assim um pouco, um pouquinho, da combalida auto-estima tupiniquim.
Já fui apreciador da Formula 1 (...não sou mais…) e boa parte das cenas mostradas no documentário, incluindo a do acidente que vitimou Ayrton, eu assisti ao vivo. Mas naquela época eu não dei a dimensão nacionalista que percebi hoje em 2019. Foi preciso, vinte e tantos anos, dois governos neoliberais, privataria, ascensão e queda (trágica) de um lider popular, um Golpe parlamentar e a ascensão de um lider fascistóide, vira-lata, ignobil que usurpou o Brasil e o sonho da integridade na política em milhões de brasileiros, pra perceber, a dimensão semiótica e simbólica que representou a imagem de Ayrton Senna, dando a volta final, depois da bandeirada, e subindo ao pódio com o nosso “pendão da esperança”, nosso “símbolo augusto da paz”. Perceber, enfim, que o nosso Brasil é de fato gigante, não só territorialmente, mas essencialmente, pois é do tamanho do seu povo, taõ bem representado, na obstinação de um piloto de corrida.

Eu não sou ingênuo em colocar Ayrton Senna em um Panteão, ou elevá-lo a condição de santo, ou algo que o valha, talvez poderia inclui-lo como um heroi ou grande caráter do símbolo nacional, mas não num nível de D. Pedro I, um Joaquim José da Silva Xavier, um Juscelino Kubitschek, mas com certeza acima de um Pelé (bem acima…), ou um Marechal Deodoro da Fonseca (outro golpista da História).

Senna era um empregado de multinacionais, e ganhava muito dinheiro por isso. É de se pensar se aquele braço de suspensão do seu carro tivesse caido um pouco acima, ou um pouco abaixo de sua cabeça, e se ele tivesse sobrevivido, se não faria propaganda institucional para o governo Fernando Henrique Cardoso, ou pedindo voto para Aécio Neves, ou mesmo ao lado dos artistas globais, pedindo moralidade (falsa) nos protestos de 2014, afinal, ele é filho e fruto da fina-flor da elite paulistana. Por outro lado, sabendo das vultosas quantias que ele destinava para projetos sociais, culminando no seu Instituto Ayrton Senna, não seria difícil imaginá-lo, dando aval ao Fome Zero de Lula, ao lado de Gisele Bündchen, ou fazendo campanha para Marina Silva, ou Marcelo Freixo, ou Eduardo Jorge, ou Heloisa Helena.

Meu filho Rafael Virginio uma fez me perguntou “qual seria a posição política dos seus pais, meus avós, na conjuntura de hoje”… ...é difícil conjecturar, jogando o passado no presente, ou num futuro, afinal o Tempo é uma porra de uma flecha que irremediavelmente só avança para frente, não volta, não volta de jeito nenhum, não faz curva, só corta o espaço/tempo pra diante! E tudo que nos resta são meras, e por vezes estúpidas, conjecturas.

O Brasil e o mundo dos anos 1980 e 1990 eram muito mais fácil de compreender, e até de se viver, tudo era mais fácil, não se tinha tanta informação, não se tinha tanto uso ruim da informação, não se tinha deturpação, era “nós contra eles”, quem era rico ia pra Universidade, comprava livro e disco, e quem era pobre, era pobre, e só. O mundo não era tão multifacetado, não era tão interligado, naõ era tão multipolarisado. É dificil imaginar um Ayrton Senna no Século XXI, como é tão difícil quanto imaginar também um John Lennon no Século XXI.

A única coisa que sei é que a imagem de Ayrton Senna que vi foi a imagem do Brasil. Dramático, extremado, obstinado, único, sem paralelo com qualquer outra nação, trágico, heroico, caricato, porém verdadeiro, destemido...sobretudo apaixonado.

Pode vir fascista, socialista, o escambau…. Pode vir neoliberalismo, privataria…. Pode vir Plano Nacional de Desenvolvimento, 50 anos em 5….Pode vir dilapidação, depois construção…. Pode vir favela, casa de taipa, seca, saques, sertão, pois depois vem a redenção, pois nós brasileiros, somos, O POVO, e antes dos israelenses, SOMOS O POVO ESCOLHIDO!