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quinta-feira, 28 de abril de 2016

A MOÇA CEGA



Não existe nada mais perigoso do que uma mulher cega segurando uma espada afiada e pesada.
 Ela não vê por onde anda, precisa ser conduzida. A espada é pesada demais para seus delicados braços femininos, consequentemente o fio daquela lâmina pode atingir a qualquer um.
Talvez, nisso consiste o significado subliminar da simbologia da deusa Themis, na mitologia do panteão divino grego antigo. Aliás, cumpre ressaltar que as primeiras representações de Themis na Grécia, ela não usava venda, nem era cega, ela tinha a espada e a balança, mas também tinha os olhos bem abertos.
Mas ai os romanos se apropriaram dos deuses helênicos, Themis virou Justitia (daí veio a palavra justiça), ela ‘do nada’ ganhou uma venda nos olhos, “a justiça é cega”, portanto precisa ser conduzida por pessoas sábias, para saber desvia-la dos obstáculos e levar por boas veredas, essa é a essência do mito, além do que por sua venda, ela não faria diferença entre as pessoas, atingiria com sua espada qualquer um, rico ou pobre, homem ou mulher, talvez seja essa a característica mais sublime, ou a mais nefasta.
Como eu disse, a moça é cega, ela não sabe para onde vai, ela brada sua espada no ar e não tem a mínima ideia se vai bater ou não em alguém, ou mesmo se esse alguém a quem eventualmente bateria merece ou não levar uma lapada daquela lâmina afiada. Quem tiver a chance de lhe pegar no braço é quem pode conduzi-la, para o lado bom ou para o lado ruim.
Certa vez eu presenciei um jovem senhor, deficiente visual, tentando atravessar a rua, num dos cruzamentos da cidade. Ele passou bons minutos plantado na esquina, numa expressão corporal como que de pedindo ajuda.. De longe vi a cena e me aproximei para ajudar, mas antes que eu chegasse, uma outra pessoa veio e o pegou pelo braço. Voltei pro meu caminho, afinal outro bom samaritano apareceu e fez o que eu ira fazer. Mas daí pensei, e se aquele sujeito não fosse exatamente um bom samaritano? E se ele fosse um “cabra ruim”, um mal intencionado? E se ao invés de levá-lo par o outro lado, o levassem para uma área baldia espancasse o pobre cego  e levado todos os seus pertences?! Ou então o deixado no meio da rua, dizendo estar na calçada, e aguardar sadicamente enquanto ver o mesmo  ser atropelado?! Voltei para traz no meu devaneio pessimista, mas felizmente o cidadão levou o jovem senhor cego para o outro lado da rua, “ainda bem”, respirei aliviado.
Mas com a jovem sexy com a espada na mão não tem a mesma graça, mais e mais, assim como no passado e talvez no futuro, quem tem segurado o braço dela, seriam pessoas no mínimo indignas de fazê-lo. Sorte de quem chegou primeiro para ajudar a “atravessar a rua”? Não necessariamente! Muitas vezes dinheiro! Influência política (decorrente do dinheiro)! Castas, sobrenomes, linhagens hereditárias (mais uma vez dinheiro)! Propósitos estes ou aqueles  (adivinha? Dinheiro!).
Mas e a Justiça? Bem, como eu disse a moça é cega, ela está conduzida por quem chegou perto dela, ela não vê aonde ou em quem sua espada pesada vai atingir, aliás, ela nem vê quem a conduz.