Não existe
nada mais perigoso do que uma mulher cega segurando uma espada afiada e pesada.
Ela não vê por onde anda, precisa ser
conduzida. A espada é pesada demais para seus delicados braços femininos,
consequentemente o fio daquela lâmina pode atingir a qualquer um.
Talvez, nisso
consiste o significado subliminar da simbologia da deusa Themis, na mitologia
do panteão divino grego antigo. Aliás, cumpre ressaltar que as primeiras
representações de Themis na Grécia, ela não usava venda, nem era cega, ela
tinha a espada e a balança, mas também tinha os olhos bem abertos.
Mas ai os
romanos se apropriaram dos deuses helênicos, Themis virou Justitia (daí veio a
palavra justiça), ela ‘do nada’ ganhou uma venda nos olhos, “a justiça é cega”,
portanto precisa ser conduzida por pessoas sábias, para saber desvia-la dos
obstáculos e levar por boas veredas, essa é a essência do mito, além do que por
sua venda, ela não faria diferença entre as pessoas, atingiria com sua espada
qualquer um, rico ou pobre, homem ou mulher, talvez seja essa a característica
mais sublime, ou a mais nefasta.
Como eu
disse, a moça é cega, ela não sabe para onde vai, ela brada sua espada no ar e
não tem a mínima ideia se vai bater ou não em alguém, ou mesmo se esse alguém a
quem eventualmente bateria merece ou não levar uma lapada daquela lâmina
afiada. Quem tiver a chance de lhe pegar no braço é quem pode conduzi-la, para
o lado bom ou para o lado ruim.
Certa vez eu presenciei
um jovem senhor, deficiente visual, tentando atravessar a rua, num dos
cruzamentos da cidade. Ele passou bons minutos plantado na esquina, numa
expressão corporal como que de pedindo ajuda.. De longe vi a cena e me
aproximei para ajudar, mas antes que eu chegasse, uma outra pessoa veio e o
pegou pelo braço. Voltei pro meu caminho, afinal outro bom samaritano apareceu
e fez o que eu ira fazer. Mas daí pensei, e se aquele sujeito não fosse
exatamente um bom samaritano? E se ele fosse um “cabra ruim”, um mal
intencionado? E se ao invés de levá-lo par o outro lado, o levassem para uma
área baldia espancasse o pobre cego e
levado todos os seus pertences?! Ou então o deixado no meio da rua, dizendo
estar na calçada, e aguardar sadicamente enquanto ver o mesmo ser atropelado?! Voltei para traz no meu
devaneio pessimista, mas felizmente o cidadão levou o jovem senhor cego para o
outro lado da rua, “ainda bem”, respirei aliviado.
Mas com a
jovem sexy com a espada na mão não tem a mesma graça, mais e mais, assim como
no passado e talvez no futuro, quem tem segurado o braço dela, seriam pessoas
no mínimo indignas de fazê-lo. Sorte de quem chegou primeiro para ajudar a
“atravessar a rua”? Não necessariamente! Muitas vezes dinheiro! Influência
política (decorrente do dinheiro)! Castas, sobrenomes, linhagens hereditárias
(mais uma vez dinheiro)! Propósitos estes ou aqueles (adivinha? Dinheiro!).
Mas e a
Justiça? Bem, como eu disse a moça é cega, ela está conduzida por quem chegou
perto dela, ela não vê aonde ou em quem sua espada pesada vai atingir, aliás,
ela nem vê quem a conduz.