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domingo, 26 de outubro de 2008

Manifesto?

Certa vez inventei de mostrar um das minhas poesias à uma amiga escritora. Ela, muito cordial e educada a leu, contudo a crítica que dela esperava, nem de longe, era a que esperava. De pobre e sem sentido foi o mínimo que ouvi. Algo mais entre sem métrica, estética e sentido, lembro também de ter escutado.
Senti-me pequeno, diminuto, a menor e mais insignificante das criaturas.
A poesia é algo cruel. Por vezes abre-se diante de nós como a porta salvadora das agruras d’alma, por outras nos impõe hermetismos que, se forem obedecidos na risca, tolhem o ímpeto e o “aquilo” que se queria dizer.
Não sei se por minha pouca carga de leitura, ou pela doentia admiração que tenho por Drummond, mas sempre escrevi versos puramente livres, e ouvir que me falta estética e sentido, confesso, doeu, doeu muito...
Escrever poesia, e mais, dá-la a leitura alheia assemelhasse muito a desnudar-se. Na poesia o sujeito (poeta) se desnuda, não no sentido físico despojando-se das vestimenta, mas no sentido subjetivo despojando-se das armaduras sentimentais que a vida nos impõe, se mostra a alma, mostra a si, mostra o que ama e o que odeia, mostra até mesmo aquele mais escondido sentimento guardado lá na última gaveta do último esquecido móvel do quarto mais escondido, mais recolhido no último canto do muro da mansão do coração. Enfim, se está pelado aos olhos do povo. O poeta que faz questão de declamar seus próprios versos é antes de tudo um exibicionista que faz questão de mostrar suas intimidades aos olhares dos outros. Dizer que uma poesia é ruim é o mesmo que ir ao campo de nudismo e ouvir “hei, olha aquele cara, olha o tamanho do pinto dele!” “rá-rá, olha a bunda, uma é maior que a outra”, “vixe, quanta banha!!!”, “nossa, tão novo(a) e cheio de celulite”. O sujeito sente-se a pior das criaturas, afinal, aquele é seu corpo, nele está o habitáculo do seu espírito, o revestimento de si, aquilo com que espera ser apreciado e amado. Por mais que procure modificar o seu corpo, seja em procedimentos cirúrgicos ou pesadas séries de ginástica e esporte, sempre irá pairar a sombra de uma feiúra intrínseca e imutável desses ou daqueles comentários.
Os campos de nudismo deveriam ser proibidos a pessoas feias, a poesia deveria ser vetada aos iletrados e aqueles que não se adéquam a ditadura eterna da métrica (...e seus cegos seguidores)...
No sou hipócrita em dizer que a beleza em si seja ruim, afinal sou humano, e para nós da espécie homo Sapiens a beleza vem antes da ética, e da mesma forma que existem corpos esculturais, existem poesias sublimes, existem corpos feios, existem poesias feias
No entanto Drummond’s e Zé Ninguém’s devem viver em paz, sem persigção nem ataques diretos, ou então surgirão campos de extermínios para os corpos feios, tal qual os da Alemanha nazista que buscavam “limpar” da sociedade todos os feios que não se adequassem ao padrão nórdico (...e isto não é correto, principalmente se ver a vida pelo prisma do feio...afinal ninguém tem culpa em ser feio, judeu, negro, magro ou gordo, nordestino ou cigano, maconheiro ou evangélico...muito menos comunista...)
Os literatos pedantes sonham com grandes campos de extermínio onde os feios padecerão nas câmaras de gás!
Que direito se tem de impedir a exibição da feiúra alheia se esta não lhe agrada aos olhos?
As almas aflitas necessitam da poesia como os naturistas necessitam da nudez...cada um se exibe do jeito que quer e pode...
Será que não posso rasgar meu coração se o sangue que dele jorra não cabe numa estrofe?
Será que o olhar cínico, culto e esnobe dos literatos e letrados me negarão o direito de tirar minhas roupas sentimentais e expor a nudez das minhas entranhas sentimentais?
A pseudopoesia vem como uma tábua de salvação neste mundo tão afeito a regras!
Venham, venham todos, analfabetos, semi-alfabetizados, asnos de toda espécie, venham os iletrados, incultos, românticos desajustados, corações cheios de sangue prontos para jorrar sem sentido, sem formas de gelo, pequeninas, de métricas de um distante parnaso.
Venham aleijados, feios, barrigudos, flácidos, velhos cheios de pelanca, tirem suas roupas neste campo de nudismo livre, ninguém olhará se sua nudez fede, se seu anus está repleto de fezes, se tem só tem uma perna, se o pênis é pequeno ou grande, ou se o seu braço é maior que o outro! Tirem suas roupas!
Viva a pseudopoesia!