Japão. Um dos
países mais fortes e ricos do mundo, altos índices de desenvolvimento humano,
educação, saúde e segurança. Um paraíso civilizado e organizado se não fosse as
mais altas taxas de suicídio do mundo. Sim, nem tudo é perfeito. No Japão, o
suicídio é institucionalizado e sacramentado, ao contrário de nós, aqui no
ocidente, que despreza e vê num suicídio uma reprovável fraqueza, lá eles veem como uma saída
“honrosa”. Eu particularmente entendo o suicídio como distúrbio psíquico, uma
patologia a ser tratada, mas o japonês comum ver como uma maneira de resolver
problemas, ao invés de lutar, melhorar e progredir, eles preferem tirar a
própria vida, seja por uma nota baixa na escola, seja um problema no trabalho.
A coisa ficou tão grave que na recessão japonesa de meados da década de 1990, o
então primeiro-ministro japonês, o socialista Shinzo Abe, teve a coragem de
afirmar que o suicídio estava se tornando um problema crônico de saúde pública
no país, tal foi o número de pessoas que ceifaram a própria vida. Mas o
suicídio é uma tradição, uma tradição besta!
Santa Catarina.
Um dos estados mais ricos e industrializados do Brasil. Ao contrário do
restante do país, este estado sulista tem forte colonização açoriana, e dos
Açores veio a prática da chamada “Farra do Boi”, que consiste em, numa
determinada época do ano, soltar um pobre animal, um boi, pra ser
impiedosamente surrado em praça pública até a morte, tal qual um linchamento.
Quem já teve a oportunidade de ver este
horrendo e dantesco acontecimento, seja pela televisão ou pela internet, fica traumatizado.
É uma brutalidade irracional, o pobre bicho foge desesperado enquanto a turba
armada de paus e cacetes o agride de maneira cruel entre gritinhos de
entusiasmo dos participantes. O Ministério Público catarinense e outras
entidades de bom senso, vem buscando nos últimos anos coibir esta prática. Mas
esta ainda está enraizada, dizem que é “cultural”, é uma tradição, outra
tradição besta!
O que quero
passar é que não é necessário ser ou viver em uma região rica, ou letrada para
se partilhar de tradições absolutamente bestas e sem sentido. A região do
Seridó potiguar, por exemplo, não é rica nem letrada, mas aqui tem uma tradição
indubitavelmente BESTA: a queima de fogueiras nas festas juninas.
Que o
seridoense não gosta de verde, isto já é patente. Baste ver as “podas”
exageradas das árvores nas ruas, o corte indiscriminado de centenárias árvores
frutíferas na zona rural, e sempre ver o “mato” como um problema, uma praga a
ser sanada. Resultado: elevadíssimos índices de desertificação, a consequente
falta de chuvas gerando escassez dos recursos hídricos. Está tudo interligado,
só não vê quem não quer. E assim o seridoense-potiguar vai se tornando tão
“suicida” quanto o japonês, ambos se matam em nome de uma “tradição”.
Outro dia, numa
certa cidade do Seridó do RN, um certo edil estava incomodado com a
criminalidade e o consumo de entopercentes debaixo da copa das árvores na praça
pública diante de sua casa. O edil paspalho, ao invés de pleitear por mais policiamento
e vigilância na praça, ou por mais iluminação pública para afugentar os
meliantes, preferiu a solução “mais seridoense”, mandou cortar as árvores.
Resolveu o problema? Claro que não! O consumo continuou e criminalidade também,
dessa vez a noite e debaixo das marquises; e de quebra tornou a praça mais feia
e árida.
E para
completar de vez, na época dos festejos juninos se tem essa tradição besta de
queimar fogueira, e para isso se corta madeira virgem, das pouquíssimas que
resta.
É tradição!
Pode dizer alguns. Não dá pra mudar. Pode dizer outros. Mas preciso chegar
alguém e dizer em alto e bom som, é uma
tradição besta e desnecessária, assim
como Shizo Abe disse da tradição japonesa do suicídio, só espero que
quem o diga não sofra tanto quanto o bovino da “Farra do Boi” catarinense.