Currais Novos
não tinha carnaval. A cidade ficava ‘morta’ literalmente sem vida durante os
festejos de Momo. Quem tinha dinheiro ia pra o litoral ou pra destinos
tradicionais da folia, Recife, Olinda, até Salvador. E quem não tinha dinheiro
também ia, se endividava, fazia o que fosse, mas ia embora, ninguém ficava aqui.
E assim, involuntariamente, Currais Novos ia se tornando uma cidade-retiro. Enquanto
isso, Caicó a eterna rival pela hegemonia seridoense, consolidava ( e ainda
consolida) seu carnaval. Até que um dia, um punhado de artistas locais, mais a
mídia e com o apoio do povo e suporte (mesmo que relutante) do comércio e entes
governamentais, decidiram dar um ‘basta’
e criar um carnaval diferenciado, sem os “apelos grafiteiros”, nem as batidas
monótonas das swingueiras (quer queria, quer não, é quase um imã pra violências
de rua), e deram-lhe um nome: “Arrastão do Boi”, e um objetivo: “ser um
carnaval cultural”, com resgate das nostálgicas marchinhas e coisas novas, de
bom gosto, com a coadjuvância do boi do Trangola.
Eu vi como
foi difícil, digo de cátedra, pois minha esposa protagonizou e acompanhou o
projeto desde o seu gênesis. Percebi o quão difícil foi e é, principalmente
numa terra como Currais Novos, naturalmente relutante ao novo e ao intrépido, mas
no fim das contas foi um sucesso, as pessoas aderiram, houve festa e alegria, e
principalmente nenhuma ocorrência policial grave, e somente uma nota triste, o
chilique da pseudo-proto estrela que se autodenomina Khystal (não sei pra que
tanta consoante pra dizer “Cristal”, deve ser coisa de gentalha americanalhada).
Eu não estive
lá (ainda bem) mas fontes fidedignas disseram que ela saiu esculhambando
meio-mundo, e o adjetivo mais leve que ela usou pra se referir a festa foi “merda”.
O palco não prestava, o som ruim, e outras coisas que não vale a pena
reproduzir.
Falta de
consciência da cantora que aprendi a admirar pelo teor engajado e postura
combativa, a quem passei a repudiar (e agora desprezar) pois sua atitude aqui,
não correspondia ao que dizia a letra de suas canções. “ Minha bandeira é a da
força de vontade...pois to pra fugir das amarras da padronização”, mas pelo que
vi, as tais amarras já a prenderam. Será que algumas meras apresentações num
reality show da Globo foram suficientes pra enchê-la de ego? Ou será fraqueza
de caráter? Falta de personalidade? Desequilíbrio psicológico? Quem sabe?
Não sei, só
sei que foi feio, muito feio. Como é feio cuspir num prato que já comeu,
destratar quem pagou prontamente um cachê combinado, feio para com os fãs, feio
para os organizadores que fizeram das tripas coração para que o evento fosse
concretizado. Acima de tudo, feio para o povo, feio para a cidade que a acolheu
de braços abertos. A arrogância é uma coisa feia.
O artista
deve ter a sensibilidade de perceber que o público que vai a um Carnegie Hall é
o mesmo que vai a casa-show de Pirapora do Bom Jesus e que ambos merecem
respeito e que ambos gostam e querem ver o mesmo artista que se apresenta. “...todo
artista tem que ir aonde o povo estar...” sábias palavras, Milton Nascimento!
A cantora
Cristal deveria se tocar que ela não tem a beleza nem o apelo para lotar uma “Du
Rei”. O seu público é aquele, e se ela o ofende, ela tira de si própria o seu
ganha-pão, se é que ela tem a ilusão de viver dos ganhos do seu canto.
Só sei que,
definitivamente deixei de ser fã de Cristal, percebi que sua garra potiguar,
sua personalidade, humildade e suas letras bem feitas, eram todas da boca pra
fora, mentiras vazias, traduzindo uma verdade que não corresponde a ela
própria.
“De que lado
mora seu preconceito”, Cristal, “De que lado mora seu preconceito”?